sábado, 27 de julho de 2013

O Messias vem aí: a profecia do rock nacional

Eu tive um treco, um delírio, um contratempo,cismei que fui para o céu contente. E lá, Deus me falou que eu sou profeta do rock and roll e disse: "Meu filho, volte para terra e profetize a boa nova". E a boa nova é sobre o messias do rock nacional. Sim, estou dando uma de Mãe Dinah, de médium, de guru, de profeta e de sei lá o quê. Só sei que o messias do rock nacional será do mainstream. Ele vai acabar com a mentalidade covarde dos roqueiros que não lutam pelo espaço na grande mídia. Mas antes de apresentar como isso se dará (a profecia), vou  fazer brainstorm...

Sabemos que os roqueiros brasileiros deste século preferem ficar no tal "underground", pois soa mais chique, mais cool, mais hipster - na verdade isso é uma desculpa de aleijado. É claro que o roqueiro brasileiro foi amputado pelo jabá da concorrência e de certas ideias absurdas de que o brasileiro não curte rock, prefere o banquinho-violão ou as estéticas sonoras do universotário, do funk-regina-casé entre outros absurdos sonoros tupiniquins. Mas isso não justifica o roqueiro nacional de hoje ser um cabação.

Nos anos 60, a aclamada Elis Regina era a concorrência do rock. A desgraçada contribuiu para a idiota passeata contra a guitarra elétrica. Babacas como ela viam a guitarra (consequententemente o rock) como uma espécie de braço do imperialismo norte-americano e que a verdadeira música brasileira não pode ser feita com instrumentos e ritmos vindos da América evoluída. Estas ideias dos comunitóides da MPB de certa forma caparam o rock nacional, que mesmo assim sobreviveu  através dos messias da Jovem Guarda, que foi macha e marcou seu espaço no mainstreen, ocupando bons horários na programação televisiva nacional. Coisa que não acontece hoje.

Outros que mijaram no poste e marcaram território foram os roqueiros dos anos 80. Até hoje o brasileiro que gosta do rock nacional é víúva de caras como Renato Russo e Cazuza. E para consolar os enlutados são criadas as chatíssimas baladas "ploc", que tentam ressuscitar estes messias lembrando da última época em que o rock nacional esteve no mainstream.

Enquanto nos anos 80, o rock estava no Bolinha, Faustão e Chacrinha o rock nacional de hoje está onde? Tocando em becos pseudo-cults de Pernambuco, em galpões sujos na Lapa e em bares decadentes de neuróticos do heavy metal em Juiz de Fora. O pior que os roqueiros de hoje acham isso legal, bonito. Eles não param para pensar que enquanto eles estão em seu casulos, o Michel Teló, o Luan Santana e o Gustavo Lima estão comendo as mulheres mais gostosas do Brasil. E por quê? Porque eles estão no mainstream. O roqueiro brasileiro é covarde, não luta pelo maintreen, preferem a chiqueza da decadência, da melancolia. E o resultado disso é que roqueiro nacional não come ninguém, não ganha dinheiro e vai morrer de cirrose se achando o mártir do gênero (fim do brainstorm).

Mas essa postura vai mudar, pois Deus me disse que o próximo messias vai acabar com esta mentalidade Jeca Tatu do rock nacional. E como ele vai fazer isso? Com carisma, rock-blues e letras que causem identificação nas pessoas. Canções sobre casos reais de amor e situações cotidianas como festas, noites mal dormidas, conversas de bar, breguices e angústias comuns ao brasileiro.

Isso basta para entrar no mainstream? Não, o nosso messias vai carregar a cruz de bater em porta em porta de emissoras de rádio e de TV. Mas vai conseguir tocar na rádio ou na TV depois de se sacrificar comendo uma gorda nojenta que produz ou dirige algum programa de uma emissora líder de audiência. Talvez nosso messias tenha que comer Marlene Matos ou Lucimara Parisi.

Mas o sacrifício vai ser recompensado. Após tocar uma vez na tal emissora, ele vai poder desfrutar de Ellen Roche, Sheilla Carvalho, Maitê Proença e todas as mulheres frutas que ele imaginar. Ah, o nosso Messias vai estar no EGO. Vai aparecer a seguinte manchete. "Messias janta com ex de Malvino Salvador".

Estando nas páginas de fofoca ele consegue aumentar sua popularidade e participa do "Arquivo Confidencial" do Faustão. E sem nenhuma vergonha de estar tocando para todas as classes sociais e de estar rimando amor com dor, vai lançar seu disco cantando cercado pelas bailarinas delícias do ex-esférico apresentador. Vai fazer tipo o Leonardo, mas com boas músicas. Músicas fodas, repletas de solos de blues. E assim o brasileiro comum vai finalmente se render à guitarra elétrica.

O nosso messias vai aparecer no Instagram em uma balada louca em Ibiza com o Neymar. Ele vai ter o amor pelo dinheiro, vai descobrir que o dinheiro compra amor verdadeiro ao saber que Barbara Mori está apaixonada por ele - nessa fase ele já vai estar consagrado em seu quinto disco chamado "Messias do Rock".

Já no sétimo disco - um rock blues fodalhão cantando em espanhol com Alejandro Sanz- ele vai ser convidado para o "Medida Certa" do Fantástico. Depois de dois anos de casado e uma longa pausa na turnê, o messias ganha uma pança, mas nada que 3 milhões não resolva (detalhe, o disco de rockblues com o Alejandro Sanz ganhará o Grammy Latino).

Neste tempo o cenário cultural já vai ter passado pela revolução que ele criou ao se sacrificar (comer a produtora). Teremos rock de qualidade em nossas rádios. Maria Gadú, Caetano, Chico, Los Hermanos e Sambô tocarão apenas nos auto-falantes de lojas de conveniência e elevadores de prédios comerciais. O arrocha e o funk-ixquenta serão nuvens passageiras. O rock terá caído nas graças da população brasileira. Um peão qualquer vai saber diferenciar o som de uma gibson em relação a uma fender.

Ah, o melhor da história, estava quase me esquecendo. Deus me falou que o profeta e o messias podem ser a mesma pessoa.


O ROCK NACIONAL TEM QUE TOMAR O MAINSTREAM, MIJAR E MARCAR TERRITÓRIO.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Agradeço aos meus pais imaturos

"Satanista e Pai Presente" - Por Mariana Salimena

O novo disco do Black Sabbath foi lançado, alcançou o topo das paradas de vendas, recebeu raladas e elogios da crítica especializada e, agora, finalmente é destaque no Rock Spades. Esperei a poeira baixar justamente para ter mais tempo para ouvir "13" e fazer uma análise do disco. Neste tempo de espera e audição, fui lendo as críticas dos colegas da imprensa.  Li tantas que excepcionalmente não vou fazer hoje uma crítica sobre o disco "13", mas vou fazer uma crítica à crítica. Complicado?

Confesso que gostei do maior parte do que li, apesar de achar que a crítica musical atualmente escreve de uma maneira um pouco covarde.  Não deixa muito clara a opinião, talvez com medo de não agradar os fãs dos artistas, ou porque tem rabo preso com a gravadora.

Por esses, ou outros motivos, os jornalistas deste meio parecem ficar no meio do muro (nem em cima eles estão conseguindo ficar). Para disfarçar isso, criam formas de avaliação do estilo da revista Rolling Stone que utiliza cinco estrelas (pontuação muito curta para se avaliar trabalhos artísticos) . Por exemplo, "13" ganhou 3 estrelas. 

Noto que na verdade parte da crítica prefere usar um estilo de construção de texto em que os jornalistas ameaçam dar uma opinião, mas na verdade esperam que o leitor tire as próprias conclusões. Este estilo eu chamo  de a "resenha crítica imparcial": você escreve as suas impressões sobre o disco, mas fica no meio do muro (isso deve ser um reflexo do frágil conceito de imparcialidade). A imparcialidade para um jornalista é tão sagrada como a cruz para um cristão. Enfim, este tipo de crítica,  denuncia detalhes ruins, mas elogia o lado bom e tira uma conclusão pseudo filosófica. 

Apesar da minha crítica pesada às críticas, como já afirmei, curti várias. Principalmente algumas que revelavam detalhes técnicos da gravação do novo disco do Sabbath, ou que mostraram algo que eu não havia notado, como músicas que eram citações de obras anteriores da velha banda de Birmighan . 

Mas o texto sobre o lançamento de "13" que me chamou mais a atenção foi o do colega Thales de Menezes da Folha de São Paulo.  Muito bem escrito e sincero, considerou o disco bom. Concordo com ele na afirmação de que o disco não tem aquele som de garagem, como tinham os primeiros álbuns da banda. Mas fiquei ressabiado quando ele afirmou que é "difícil acreditar nos discursos filosóficos e satanistas desses senhores de 60". 

Afirmações semelhantes a esta do Thales são repetidas a cada vez que algum dinossauro do heavy metal tenta lançar algo novo. Isso aconteceu com o Dio, com o Iron Maiden e vai continuar acontecendo. Sempre os jornalistas aparecem com esse argumento de que não faz mais sentido estes velhos monstros do rock pesado continuarem repetindo as histórias de vampiros, capetas, fim do mundo, ou ideias pessimistas. 

Pô, galera da redação, nós fãs sabemos que nossos heróis não comem mais morcego, não participam de seitas do demônio e não são filósofos pessimistas. The Osbournes (MTV) nos mostrou que o herói do heavy metal muitas vezes é um pai de família desastrado. Senhor jornalista, sim, temos consciência de que esses esses caras, aparentemente inofensivos no dia-a-dia, vestem a máscara de mau para subir nos palcos e falar de coisas sombrias - assim como crianças se fantasiam no Halloween. 

Qual o problema de expressar o lado sombrio nas músicas e ser um bêbado amável no cotidiado? Será que eles tem que colocar em prática o que é dito na música para que a arte seja mais convincente?  Será que só porque eles são velhos devem demonstrar maturidade em suas canções?

O lindo no heavy metal e, consequentemente, no Black Sabbath está justamente nesta possibilidade infantil de brincar de Helloween. E dizer que o discurso satânico do Black Sabbath não é convincente é mesma coisa de chegar para uma criança e falar que Papai Noel não existe. É tentar acabar com a fantasia, com encanto, é azedar a boca da égua.

"13" Disco Fodão
Porra, 80% das crianças não acreditam em Papai Noel, mas adoram receber sua suposta visita no dia 25 de dezembro. E 80% dos fãs de Sabbath não acreditam no demônio, mas supostamente vão recebê-lo de braços abertos nos shows do Black Sabbath em outubro no Brasil. E vão agradecer aos pais imaturos do heavy metal pela possibilidade que eles dão (há mais de 40 anos) aos seus filhos de brincar com o demônio.

Em "13",A volta do Black Sabbath significa renovação do flerte com o lado sombrio de nossa alma. Bill, Geezer, Tony e Ozzy trouxeram isso em 1970 com muita irreverência e acima de tudo uma estética musical particular. E três deles continuam com a brincadeira em 2013. E neste post, só como forma de protesto ao jornalista que disse que o discurso não convence, vou encerrar com uma opinião superficial como um fã imaturo que acredita no discurso: "O disco é muito bom, do caralho, do capeta. O chifrudo lá em baixo deve estar contente. Obrigado Satanás. E fim".







terça-feira, 11 de junho de 2013

O arrocha e uma música para beijar pelado

"Arrocha Super Freak"por Mariana Salimena
Apesar de não ser um sucesso de crítica, o arrocha domina as baladas brasileiras. São dois os motivos: o ritmo e o conteúdo das letras. O ritmo estimula a ralação de cocha e as letras expressam uma maneira de relacionar de uma maioria. O discurso do arrocha é o de quem quer se proteger dos percalços das relações afetivas, ou quer amenizar a dor de um coração partido. O arrocha camufla o sofrimento afetivo com o discurso do desapego. Na filosofia arrochiana os homens são fodas, tem pênis do tamanho de uma garrafa pet, esculacham na cama e nunca se apaixonam.

As mulheres são as ressentidas tornando-se sacudas - vão passar para trás aqueles que podem provocar, ou provocaram sofrimento para elas. Na música "Vidinha" da dupla Thaeme e Thiago isto é evidente: "Lembra o amigo que você me apresentou. E o personal que me indicou? A vidinha. pegou". Homens românticos e dedicados, o oposto aos que as magoam? As arrochianianas dispensam, estes são entediantes.

As mulheres do arrocha parecem confirmar o pensamento freudiano: a inveja do pênis. A mulher, principalmente no século XX, passou a explorar o "animus"(Jung), lado masculino que existe nas mulheres. Hoje elas rotulam abertamente os homens como este é "para casar", este só é um "pau amigo", este "eu amo, sinto tesão, mas vou manter uma marrentice para que ele não me passe para trás". Antigamente uma mulher falar isso era um absurdo. Mas a geração do arrocha não se reprime. Acho saudável.

A postura dos homens e mulheres arrochianos tem o instinto de proteção e auto valorização. Ter consciência de seu valor, se proteger para não se envolver com idiotas é algo normal. Mas no caso do arrocha soa com uma certa arrogância de fera ferida. "Não me toque, agora eu sou o bom, agora eu como o cu de todo mundo, agora ele vai me ver com outro, agora eu vou trair esta garota, não se apaixone por mim pois sou o bam-bam-bam e não sou só de um(a) agora ".

Este é o segredo do sucesso do estilo, pois mascara o fracasso afetivo vivido pela maioria, além de "proteger" de outros possíveis fracassos. A inocência de quem compra tal discurso é do tamanho do sucesso do mesmo. O único jeito de se proteger de fracassos é não se relacionar. Não viver... Talvez venha daí um frase atribuída ao grande Nelson Rodrigues: "Na vida o importante é fracassar".  Quem não fracassa não vive. Se relacionar é ter coragem, a postura arrochiana é uma coragem fajuta, pois tem um eu lírico que se coloca em um plano superior, com uma auto estima forjada, uma márcara.

Apesar das minhas críticas, acho importante a função de máscara, é um primeiro passo para a superação do fracasso, depois desencanamos. Já fiz pose de durão após me ferrar, tempo depois parei com isso.

E como amanhã é dia dos namorados, vamos deixar de lado nossas máscaras e assumir que o que é bom em relacionamentos está longe de ser este tesão mesquinho do arrocha ou do ressentido durão. Ver o outro como um que a qualquer momento vai nos passar  para trás é estupidez. A relação torna-se um jogo, em que temos adversários e  não parceiros (momento conselho amoroso por Gui Monteiro).

Enquanto o espírito do arrocha persiste como um sucesso nacional, resta a quem quer tirar a máscara celebrar o dia dos namorados com boa música. E como este blog é de rock and roll, vamos contrapor o arrocha com o melhor da "final art".

Eu poderia sugerir muitas músicas que revelam um momento especial entre amantes. Putz, quem nunca amou ao som de um bluesão do Ray Charles não sabe o que é vida. Que tal um "Heartbreak Hotel" do Elvis? Ou "Something", clássico dos Beatles?

Todas estas são boas pedidas, mas escolho uma obra-prima do Jethro Tull para celebrar a data. Uma canção que meu amigo Cássio Ruiz  interpreta como ninguém. "Wond'ring Aloud' expressa a gentileza em um ato simples de uma mulher servindo uma torrada com manteiga ao ser amado.  Isso é tesão de verdade! Pureza de sentimento, uma inocência boa, gentileza, um amor nu, sem máscara. Como diria meu velho parceiro de trabalho,Thiago Henrique, isso é "música para beijar pelado".




terça-feira, 28 de maio de 2013

John Charles Fiddy e suas músicas de fundo do seriado Chaves

Os inesquecíveis bordões, as ótimas piadas, as trapalhadas idiotas, os personagens divertidíssimos e os roteiros originais tornaram o seriado "Chaves" um dos mais aclamados pelo público em todo o mundo. Um dos fatores que contribuíram para o sucesso mundial foi o trabalho das produtoras responsáveis pelas adaptações do programa para outras línguas. Por exemplo, quando chegou ao Brasil no início dos anos 80, o seriado vindo do México precisou de ser adaptado à TV brasileira. Algumas piada e bordões necessitavam ser modificados para fazerem sentido ao público nacional. O "no me simpatizas" do Quico, tornou-se "Você não vai com minha" e o "Cállate, Cállate, que me deseeeeeeeeeeeesperas" passou para "Cale-se, Cale-se, que você me deixa louuuuuuuuuco". Estas e outras sutis alterações foram fundamentais para que os bordões e as piadas se imortalizassem.

 A responsável por este trabalho de adaptação foi a produtora Maga, que funcionava no SBT em São Paulo. Silvio Santos acertou em cheio ao dar a incumbência para Marcelo Gastaldi (dublador do Chaves) e sua equipe de dubladores. A galera da Maga fez o trabalho de maneira impecável, tanto é que eu acho a versão brasileira do "Chavo del Ocho" mais engraçada do que a original. As vozes de Carlos Seidl (Seu Madruga) e de Nelson Machado (Quico) fazem muita falta quando se assiste a versão mexicana.

Além do trabalho de adaptação de texto e da dublagem, a Maga tinha a difícil tarefa de escolher os BGMs (músicas de fundo) dos episódios.Dizem alguns blogueiros e sites especializados no seriado que Marcelo Gastaldi foi o responsável pela escolhas dos BGMs. Seja quem for o responsável, o certo mesmo é que a versão brasileira do seriado tem músicas que se imortalizaram junto com as piadas e histórias fantásticas. A maioria das músicas imortais utilizadas no seriado foram compostas pelo músico britânico John Charles Fiddy, um especialista em trilhas de vinhetas, de propagandas e de seriados de TV.
John Charles Fiddy em apresentação no Japão - 1975

Neste momento, alguns leitores, podem estar perguntando: "O que tem a ver as músicas do Fiddy que estão no seriado Chaves com rock and roll? Por que este assunto está num blog de rock?". Não gosto muito de me justificar, mas acho necessário neste artigo. O primeiro motivo é que as músicas do John Fiddy podem não ter muitas características do rock, no entanto, comovem, animam, emocionam e tem muito mais pegada e sinceridade do que músicas de bandas consideradas de rock. Alguém se emociona ou sente a garra rock and roll com o U2, por exemplo? Eu me emociono e identifico algumas características de rock and roll nas músicas de John Fiddy, principalmente no feeling. É claro que meu conceito de rock (discutirei isso em próximos artigos) é um pouco diferente da maioria, mas para mim este cara é rock and roll na véia O outro motivo é que John Fiddy já trabalhou algumas vezes com monstros sagrados do rock. O cara foi participou da produção do álbum "Salisbury" da aclamadíssima banda Uriah Heep.

Pronto, já temos bons motivos para discutir sua obra e homenageá-lo no Rock Spades. Graças ao estúdio Maga e ao SBT, muitas gerações estão sendo contempladas com boas piadas e músicas desta lenda viva.

A seguir, os fãs deste blog  tem à disposição as principais músicas de John Charles Fiddy que estão presentes em diversos episódios de "Chaves".

In a Hurry: Melhor faixa de John Fiddy. Como ele é baixista, notamos em suas composições um trabalho bem elaborado nas quatro cordas. Nesta música o baixo executa uma linha cromática, estilo jazz, com variação de oitavas. Os arranjos de percussão são muito legais: chimbal e pandeiro meia lua. Cutucadas da flauta e os arranjos de guitarra aparecem com precisão. Isso para mim é rock and roll do bão. "In a Hurry" toca em vários episódios, um deles é do "Seu Madruga Eletricista" no momento em que Seu Madruga leva choques.

 

Boys: toca no episódio "Os Farofeiros" (Acapulco). Muito legal o trabalho de bumbo no início da música. A melodia em flauta é contagiante. Duvido que você não vai assoviá-la. Novamente o baixo usa variações de oitavas.



By The River: Quem já assistiu o "Dejejum do Chaves" com certeza curtiu esta bela melodia de clarinete acompanhada por um violão de cordas de nylon.



Corn Ball: este é um dos BGs mais usados nos episódios. Tem alguns intrumentos que nem imagino o nome. E o baixão do Charles Fiddy trabalhando firme novamente... Pura sensação de nostalgia, saudade da infância.



Frightened: esta aparece mais vezes no Chapolin do que no Chaves. Toca no episódio do "Bebê Jupteriano". É uma música de suspense, tendo o piano como principal instrumento.



Mechanical Toys: guitarrinha contagiante, baixão moendo com timbre fodão e de novo variação de oitavas. Isso é rock and roll. toca no episódio "Seu Madruga Cabelereiro" e muitos outros.



Mum: tema usado em momentos tristes dos episódios. Base com violão de aço e solo de um instrumento que não sei se é flauta ou clarineta, só sei que é bom.



On The Go: Esta está no episódio "Escorpião". Baixão volumosos segurando as pontas para as melodias de flauta e sintetizadores.



Playing With Toys: música usada geralmente em inícios de episódios. Melodia de flauta e base em violão de cordas de aço.



Running Away: Esta toca no episódio "Seu Madruga Cabelereiro". Dona Florinda diz: "Ande logo, Tesouro, você precisa ir cortar o cabelo". Neste momento, começa tocar esta música e o episódio vai para o intervalo. Os espectadores ficam na expectativa do que será que vai acontecer quando o Quico souber que o cabelereiro é na verdade é o Seu Madruga. Essa expectativa é representada neste tema com um sintetizador violento e ótimos arranjos de guitarra. Essa é uma das composições mais "rock and roll" do John Fiddy.



Skiping: este foi o tema da primeira abertura de Chaves no Brasil. Um tema feliz, que conta com com instrumentos de sopro e outros que não imagino o nome, devem ser instrumentos da cultura britânica.



Story Time: Música que é usada no início do episódio. "Aniversário do Seu Madruga". Dá a sensação de o começo de uma história. Tem um bumbo marcante no momento em que a música vai evoluindo e ganhado "corpo".



Time for Bed: outra versão da música "Boys".



Waking up: música calma, está em vários episódios de "Chaves" e no episódio "Conde Terra Nova" de "Chapolin". Muito bom o trecho final, em que a flauta ganha a companhia de um violão na melodia.



Walking the Dog: está nos episódios de Acapulco. Baixão oitavando, como vimos, característica marcante de Fiddy. Um som parecido com uma guitarra wah-wah faz a mesma melodia do baixo. Essa é uma das melhores!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

E as portas da percepção se abrirão

Ray Mazarek por Mariana Salimena
A morte cria santos e gênios repentinamente. Após Chorão partir, muitos passaram a saber que só os loucos sabiam. Isso é da natureza humana, cometemos o pecado de estimar ou superestimar alguém depois da sua morte. Sim, na maioria das vezes só valorizamos quando perdemos, um pensamento clichê, senso comum. Não é regra, mas se aplica a muitos casos.

Já cometi este pecado muitas vezes, valorizei muito mais o James Dio depois de sua morte, por exemplo. Mas graças a Deus, consegui homenagear muitas vezes a figura que nos deixou na última segunda-feira.  Alíás, três semanas atrás celebrei a obra de Ray Mazarek  em um bar decadente no bairro Alto dos Passos em Juiz de Fora. Toquei "Love me Two Times" e "People are Strange"  acompanhado de um gordo de 220 quilos e alguns fãs de  O Rappa que não entendiam nada do que eu cantava. É claro, os Doors não falavam de "marmita amassada na mochila". Enfim...

Não fiquei triste com a morte de Mazarek. "That's life" como diria Sinatra, mantive minha serenidade. Ao invés de lamentar prefiro discutir um pouco sobre o The Doors e a estética musical inovadora que eles apresentaram nos anos 60.

Até aquele momento na história do rock and roll, o mundo viu poucas ocasiões em que o teclado era o principal instrumento de uma banda. Nos anos 50, até tivemos Jerry lee Lewis e Little Richard que arrebentavam nas teclas, mas do piano. Teclado-sintetizador-órgão como protagonista foi apenas nos anos 60.

Nesta época dourada do rock, Ray Mazarek surgiu nos Estados Unidos com um novo som poderoso que deixava a guitarra em segundo plano. Seu teclado era a alma de sua banda, sustentava o ego de Jim Morrison. Criava o palco para o patético show de dramaticidade do poeta bonitão. Talvez as apresentações escandalosas do Jim eram umas de suas armas para atrair ainda mais a atenção do público para si e ofuscar o único gênio de verdade da banda.

Morrison era um maravilhoso letrista, mas medíocre cantor e um atorzinho no palco. Se não fosse o Mazarek, o Jim Morrison talvez seria um nome perdido na poeira de sebos. O verdadeiro gênio da banda era tão importante que valia por dois. Ter Mazarek significava ter ao mesmo tempo  um tecladista virtuosíssimo e um baixista que nunca perde o fio da meada - cada mão valia por um músico. É menos um para dividir a grana, ou as atenções (risos?).

Acho que um dos poucos "erros" de Mazarek foi aceitar o fato do Jim Morrison sempre estar nas capas, transmitindo a imagem que a banda se resumia àquela bela figura - o cara aceitou o "marketing", e é claro que lucrou em cima da imagem do polêmico vocalista. Dinheiro é sempre bem vindo, mesmo que custe alguns holofotes a menos para o tecladista. Se não fosse o Morrison, talvez Mazarek também ficasse esquecido como um gênio nunca escutado. Mas acho que Mazarek poderia se impor mais...Também considero ridículo o fato do filme "The Doors" ter esse nome, devia chamar "Morrison". Poucos detalhes são mostrados sobre os outros integrantes da banda.

Sobre os acertos de Mazarek, é fácil citar vários. Timbres excêntricos que criam cenários interessantíssimos. Suas harmonias nos provocam misturas de sensações que vão do sombrio de "When The Music is Over" e o circense de "Alabama Song", só para citar as mais clássicas. Ouvir seu teclado é ser convidado a um mundo diferente: cheio de poesia, situações sombrias e metáforas absurdas. Assim como Mariana Salimena ilustra minhas palavras, Mazarek "desenhava" a poesia de Morrison por meio de sua infinita variedade de texturas sonoras.

Espero que os fãs de O Rappa que estavam me ouvindo tocar The Doors se comovam com a morte do Mazarek. Confio que eles lerão a notícia da morte de "um tal Mazarek" em algum site qualquer (pode ser este), ficarão curiosos e depois escutarão a beleza do teclado. Neste caso seria interessante que a morte os faça valorizar quem realmente mereça. Espero que a morte crie para eles um gênio repentino que mostra a arte indo além da marmita amassada, do ônibus lotado e do muro pichado na favela. Torço para que a morte abram as portas da percepção para esses caras.

Este blog falará muito mais sobre Mazarek. Por enquanto é isso. Fiquem com um vídeo dos  Doors em que Mazarek vale por três: baixista, vocalista e tecladista. A qualidade é horrível, mas é um registro histórico.



 Aqui temos mais um, já com Mazarek velhão cantando "Riders on the Storm" :

 



sexta-feira, 17 de maio de 2013

Boneca Virtual x Freira Gostosa

Musa Estilo Restart - Por Mariana Salimena

Nesta linda noite de sexta-feira, dissertarei sobre o lançamento de dois clipes de rock and roll, enquanto como uns biscoitinhos de banana com canela. Alíás, biscoito doce tem tudo a ver com a banda que lançou o clipe "Cara de Santa" esta semana, os fofos do Restart. O problema é que este meu quitute não tem nada a ver com a outra banda que também divulgou seu novo clipe, o Deep Purple (acho que com essa combinaria mais uma boa picanha mal passada).

O que me levou a unir Restart e Deep Purple no mesmo artigo foi o fato de que em ambos os clipes contam com musas! E estas musas praticam a belíssima arte do pole dance. Quem diria? O Restart tendo musas, por um bom tempo pensei que eles fossem assexuados, uma espécie de Teletubies com guitarras. Mas eu estava enganado, a letra da música tem termos que sugerem o ato da masturbação: "ficar na mão". Além de vocalizações de "ahns, ahns, ahns" que insinuam uma cópula. Safadinhos estes coloridos, hein? Você que ainda não viu o clipe e está lendo agora estas minhas palavras deve estar pensando: "Pô, os caras do Restart estão amadurecendo, já fazem ahns, ahns, ahns, ô ô ô ô e já se masturbam?". Até poderia ser animador, mas não é. Não tem como ser animador a partir do momento que você assiste o clipe e vê quatro coloridinhos flertando com uma boneca virtual, uma musa feita no 3D Max.

Ao fazer rock and roll, por que não colocar uma mulher de verdade para interpretar a musa-com-cara-de-santa-que-se-faz-de-inocente-mas-gosta-do-love-love-love-love-me? A resposta é simples, o público do Restart é um público que está começando agora a conhecer seus pelos pubianos. Talvez colocar uma musa de verdade, deixaria o clipe com um "arzinho" de inapropriado para melhores. A bonequinha virtual deixa o clipe mais fofinho, a questão sexual torna-se mais lúdica, quase uma diversão. Em outras palavras o  Restart está promovendo um flerte sexual "politicamente correto" (para usar o termo tão difundido atualmente), respeitando a idade de seu público.

Interpreto isso como uma tentativa da banda de preparar seu público para a transição entre a vida púbica e a adulta. A banda vai envelhecendo junto com seus fãs e seria um tanto incoerente se eles continuassem a cantar musiquinhas que serviriam de trilha sonora para o Patati-Patatá. Assim notamos uma banda que aos poucos vai inserindo questões mais maduras em suas músicas. Um Restart que coloca devagarinho para romper cuidadosamente o hímem de seu público e não provocar um sangramento abundante.  Um ato de prudência para não estragar o ridículo conto de fadas que criou nos últimos anos e que ainda rende um rico dinheirinho. De qualquer forma não deixa de ser brochante falar de sexo usando uma bonequinha virtual.

Enquanto o Restart se preocupa com o hímem de seu público, do outro lado do Atlântico o  Deep Purple não tem com o que se preocupar. Os velhos fizeram um clipe ruim, mas divertidíssimo homenageando Vincent Price, um célebre ator de filmes de terror. Ao invés de usar figuras estilo disneylândia, eles apostaram em tradicionais figuras do cinema trash: o Vampiro, o Frankstein e a Múmia. Uma estética que imita os filmes do ator homenageado, o clipe nos mostra uma espécie de pastelão de terror.

O vídeo em si é uma bosta, mas a tragédia seria maior se a música não fosse tão sensacional e o clipe não contasse com uma musa melhor ainda. Pe Lanza nenhum botaria defeito na freira gostosa que pratica um maravilhoso "pole dance" para um vampiro bobão. A musa do Deep Purple é a mistura o sagrado ao profano e nos proporciona uma excitante sensação de culpa por estar desejando invadir sexualmente uma figura "sacra". E a culpa é um tempero do tesão. Muitas vezes uma freira é mais excitante que uma paniquete. Comeríamos uma paniquete sem culpa, mas a freira...

A coincidência é que o Restart também usa  a questão do sagrado ao dizer "cara de santa", mas é algo bem sutil, não se compara a uma freira de lingerie.

Enfim, os lançamentos desses dois clipes revela o contraste entre uma eterna banda de rock and roll e uma banda que é um produtinho cultural.  Esta última se preocupa em ser conveniente com seu público - ou melhor com os pais do público, são eles que levam os filhos ao show e se decidirem que o conteúdo é inadequado, Pe Lanza e os teletubies não ganharão suas gorjetas. Por isso a necessidade de oferecer bonequinha virtual.Já banda  que faz rock and roll sincero tem a liberdade de oferecer uma freira libidinosa ao seu público. Afinal, esses fãs já  foram descabaçados em 1972 no lançamento do álbum Machine Head. O público do Deep Purple há muito tempo é uma dominatrix com o o grelo do tamanho de um mamão papaia, profundo e púrpuro.

Confiram os vídeos de "Cara de Santa" e de "Vincent Price".












segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um lobo reacionário

"Tropicália sobre Lobão" - Por Mariana Salimena 
O polêmico Lobão volta à cena! Nas últimas semanas o roqueiro carioca tem sido assunto em nossos principais veículos de comunicação. Isso devido ao lançamento do seu segundo livro: "Manifesto do Nada na Terra do Nunca", o obra em que critica a política e a cultura nacional.

O engraçado que o Lobão causou polêmica antes mesmo de lançar o livro, isso por conta de uma entrevista ácida que deu para a Folha de São Paulo no último dia 2. Suas declarações sobre a Presidente Dilma, sobre os Racionais e sobre a Tropicália, assuntos estes que são tratados no livro, não foram bem digeridas por alguns. Principalmente pelo líder dos Racionais, Mano Brown. É claro, Lobão afirmou que "Os Racionais são o braço armado do governo, são os anseios dos intelectuais petistas, propaganda de um comportamento seminal do PT".  Tal declaração fez Mano Brown ser irracional e chamar, via twitter, o cara para uma briga.

Sobre a Presidenta Dilma, disse que a tão falada "Comissão da Verdade" deve investigar também o passado   de nossa atual líder de Estado e que não acredita em vítimas da ditadura. Lobão afirma que Dilma tem uma ficha criminal ampla.

Em relação à Tropicália, Lobão se diz desinteressado e que o movimento foi um fruto da Semana de Arte Moderna de 22. Na visão dele, a famosa semana de arte quebrou o academicismo, mas os movimentos que vieram depois (inspirados na própria semana de arte) acabaram criando uma outra espécie de academicismo. Um academicismo liderado por intelectuais de esquerda, que segundo Lobão são os "campeões mundiais de punheta de pau mole". Neste grupo de intelectuais, Lobão inclui nomes respeitados na cultura nacional: Gilberto Gil e Chico Buarque, por exemplo.

Tais críticas são feitas há muito tempo por Lobão. Por isso carrega o rótulo de polêmico. Mas de um tempo para cá, Lobão passou a ser adjetivado com um termo que voltou à moda: reacionário, ou "reaça" para os mais moderninhos. Lembrei que um dos grandes mestres da dramaturgia e literatura brasileira também foi chamado de reacionário. Sim, Nelson Rodrigues até escreveu um livro com o título "O Reacionário".  Em 1977 o "anjo pornográfico" já falava que a esquerda estava virando direita. Outra figura nacional que está carregando a cruz de ser um "reaça" é o filósofo Luiz Felipe Pondé, um duro crítico do comportamento "politicamente correto".

Mas o que o roqueiro Lobão, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o filósofo Luiz Felipe Pondé tem em comum para serem chamados de reacionários? A resposta é coragem e caráter. Os três não tem medo de falar o que pensam. Eles denunciam uma cultura em que mentir sobre nós mesmos se tornou chique! Afinal de contas, é lindo dizer que somos simpáticos, que são geniais os nossos intelectuais que não produzem nada interessante há anos, que somos moderninhos por ter uma mulher na presidência, que ser pobre é lindo e que não temos preconceito.  Tudo isso tem uma certa ligação com certos conceitos lançados pela Semana de Arte Moderna de 22. E estes conceitos moldaram o pensamento de nossos intelectuais de esquerda.

E até hoje estamos nessa mediocridade cultural e política. E poucos foram cabra-macho para bater de frente com nossos monstros sagrados de nossa cultura. E por que? Simplesmente porque se você gostar ou fingir gostar de Caetano, Gil,  Chico e Marisa Monte você é tido como "cool" diante da esquerda intelectual que domina este país. Em uma conversa, você pode ganhar a gatinha hippie de boutique dizendo que gosta de Gil e todos da Tropicália. Puxar saco dessas múmias, ou morto vivos de nossa cultura se tornou uma espécie de comportamento padrão para conquistarmos uma aura de inteligentes, uma "intelectualidade USP" como diz Lobão.

Mas alguém parou para analisar friamente e perguntou para si mesmo: "Esses caras são realmente geniais?". Por exemplo, a "Ópera do Malandro do Chico Buarque é genial?". "Caetano é um gênio?". Às vezes acho que se o Chico Buarque fizesse um cocô na calçada todos nós acharíamos que aquelas fezes são geniais. E algum órgão da cultura lutaria para tombar a calçada e nomear o cocô do Chico como patrimônio da nação.

Enfim, Lobão parou para pensar nestas coisas e não só isso, escreveu um manifesto que estou ansioso para ler. Eu sinceramente nunca tinha parado para pensar se o Gil, ou o Chico realmente são gênios. Para mim eram gênios e pronto - até já escrevi uma música inspirada no Chico. De qualquer forma, Lobão me fez parar para pensar sobre a possibilidade deste membro da família Buarque não ser genial. Assim como Nelson me fez refletir sobre nossos sentimentos mais sombrios e Pondé conseguiu me fazer ser contra o feminismo e o politicamente correto.

Graças a esses caras, consegui descer do muro. Ainda gosto do Chico, mas isso não impede de tê-lo como inimigo. Afinal, como diz o Seu Madruga: "As pessoas boas devem amar seus inimigos".

Piadas à parte, caras como o Lobão, Nelson e Pondé me ajudaram a definir quais são justamente meus inimigos.  E concluí que são os "cretinos fundamentais" denunciados pelo Nelson, são os "inteligentinhos" acusados por Pondé e os "intelectuais da punheta de pau mole" criticados por Lobão. Esse tipo de gente parece menininha histérica, que quando criticada diz: "Você é feio, bobo, chato". Na verdade eles substituem o "feio, bobo e chato", por "reacionário, fascista e preconceituoso". São sempre estas acusações, tudo muito previsível. No caso do Lobão, eles acrescentam outros termos pífios: "Drogado, velha rabugenta, viciado".

Mas o que o Lobão é de verdade é um roqueiro autêntico e inteligentíssimo. É o nosso lobo reacionário que fareja hipocrisia e carrega o mais puro espírito contestador do rock and roll. Alíás, ouso dizer que Nelson e Pondé também são roqueiros. Carregam este sentimento, essa vontade de opinar e provocar reflexão. Isso é rock and roll! E Nelson e Pondé são mais roqueiros que  qualquer bandinha metida a inteligente, tipo Los Hermanos e Teatro Mágico. E para isso nem precisaram fazer um acorde de guitarra.

Confiram a entrevista do Lobão no "Agora é Tarde" da Band no dia 07/05/2013.
 




quarta-feira, 8 de maio de 2013

Por que isso não toca na balada?

"Selo de Qualidade Bob Ezrin" - Por Mariana Salimena.
Ian Gillan não grita mais como uma ninfomaníaca em orgasmos múltiplos. O Steve Morse não tem timbres tão legais quanto o rei da autoestima Richie Blackmore. Don Airey é fodão nos teclados, mas não é o finado gênio John Lord. Todos estes fatos serviriam como premissas para que os fãs mais rabugentos não curtissem o novo disco do Deep Purple. Ufa, graças a Deus, não ando rabugento nestes últimos dias. O disco é ótimo! E boa parte da crítica especializada compartilha desta minha opinião.

"Now what?!" é o primeiro trabalho de inéditas da banda inglesa em 8 anos. O Purple voltou com muita qualidade e ganhou a ajudinha de um produtor que tem um currículo de respeito. Bob Ezrin produziu simplesmente o maior clássico do Pink Floyd, "The Wall".

Quando ouvi algumas músicas tive uma primeira impressão não muito boa. Os teclados estavam soando com um timbre meio oitentista. Logo fiquei desesperado, pensei: "Putz, o Deep Purple soava como o Europe de 'The Final Countdown', será que eles estão usando blusas com ombreiras e permanentes no cabelo?".  Depois que escutei novamente o disco, a impressão foi totalmente diferente, o teclado é sensacional. Acho que na primeira audição eu estava sofrendo com alguns recalques, tenho traumas dos teclados oitentistas.

O Deep Purple está de parabéns. Steve Morse toca de maneira serena, sem ser um virtuoso eufórico, seus riffs soam cheios e graves. Seu timbre não é vintage, mas é de bom gosto. Sua pegada em "Hell To Pay", ao melhor estilo hard rock, é sensacional. Finalmente ele está conseguindo combinar seu estilo ao Deep Purple. Já Roger Glover é o mesmo de sempre, discreto. Acho que o baixo poderia ter um volume mais alto, no entanto isso não que dizer que o velho não tenha feito um bom trabalho. Glover segura as pontas para os seus parceiros de banda brilharem, é um grande músico.  Como já foi dito, Don Airey (o mesmo do sombrio teclado de Mr. Crowley de Ozzy) não soou Europe. Seus solos são maravilhosos e dialogam perfeitamente com a guitarra de Steve Morse. O solo de "Weidstan" é ótimo e tem um timbre maluco!

O lendário Ian Paice continua com um swing incrível na bateria, parece o mesmo dos anos setenta, nem os mais rabugentos conseguirão reclamar deste cara. O tempo não passa para ele. Sua canhota continua pesada, isso fica evidente em "Body Line". Já Ian Gillan parece estar respeitando sua idade e cantando muito bem como um senhor que tem consciência dos seus limites. Depois de 67 anos de berros, ele mostra que esta aprendendo a poupar sua voz para mais alguns anos de palco. Ele é um dos maiores vocalistas da história, não podia acabar com um calo nas cordas vocais e ser um Zezé di Camargo do rock and roll.

Apesar de respeitar sua idade no quesito vocal, Ian Gillan continua interpretando um garotão libidinoso nos temas do Deep Purple. Em "Body Line", o eu lírico é uma rapagão que fica paquerando uma gostosa que dança loucamente em uma balada. Quase um "Ai se eu te pego", versão rock and roll. Brincadeirinha, a música é boa.

Esta é a música que mais me chamou a atenção no disco. Tem riffs legais, duelo de guitarra e teclado, batera moendo e swing de música para realmente dançar na balada. Tive até o sentimento utópico de quem sabe ouvir o Deep Purple em uma balada aqui na minha cidade.

Imaginei até a cena. Eu chegando em uma balada (dessas que tem essas meninas com vestidos iguais aos das primas dançando arrocha e Mr. Catra) e o som do Deep Purple sendo tocado pelo DJ Zulu. Passou pela minha mente a imagem dos garotões fortões com suas camisetas de golas "V" tirando as meninas de vestidos de bandagem para dançar "Body Line" - muito ice e energético na parada. E pensei: "Por que isso não toca na balada?".

Capa do disco Now What?!
A resposta veio rápido, quando lembrei do grande especialista em rock and roll Adriano Falabella e seu bordão incrível: "Rock and Roll é para quem merece". Simples, rock and roll não toca na balada porque rock and roll é para quem merece.  Ah, se você merecer, o novo disco do Deep Purple estará em nossas melhores lojas a partir desta sexta-feira. Vida longa ao Purple!

Obs: Ainda não temos a música disponível para postar aqui no blog. Assim que tiver, vou postá-la



  

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Uma aranha em nome do Pai, uma cerveja em nome do Filho e uma vodca em nome do Espírito Santo

Ilustração de Mariana Salimena
Uma picada de aranha foi o começo do fim para Jeff Honneman. Há dois anos, enquanto relaxava em uma banheira de hidromassagem bebendo umas cervejas, Jeff percebeu que seu braço direito havia sido picado por uma aranha. Uma hora depois  começou a se sentir mal e, segundo o próprio, viu que a carne de seu braço estava apodrecendo. Partiu para o hospital, e recebeu o seguinte diagnóstico: a mordida da aranha contribuiu para que o guitarrista do Slayer desenvolvesse uma infecção bacteriana que ataca as camadas mais profundas da pele, causando necrose de tecidos. Jeff teve fascite necrosante, um nome de doença tão trash quanto as músicas do Slayer.

A doença era séria, Jeff corria risco de vida e até teve que ser induzido ao estado de coma. Além disso, passou por cirurgias no braço direito onde removeu tecidos mortos e recebeu enxertos. Jeff estava por tempo indeterminado fora da banda que fundou. Aos poucos foi melhorando através de tratamentos com fortes antibióticos. Em seguida passou a fazer fisioterapia para recuperar sua forma física e ganhar força no braço e poder voltar a tocar guitarra.

Ao longo do tempo que ficou afastado do Slayer, seu companheiros de banda chegaram a divulgar que Jeff estava se recuperando bem. E os fãs tiveram uma grata surpresa em abril do mesmo ano, quando o cara chegou a subir ao palco novamente com sua velha banda para tocar dois de seus clássicos em um show na  Califórnia. Na ocasião chegou até a declarar: "Sou o homem mais feliz do mundo".

No entanto, a volta definitiva para o Slayer não acorreu. Enquanto, se recuperava da infecção, Jeff criou uma intimidade ainda maior com uma velha paixão: a bebida alcóolica. A prova disso está em uma de suas guitarras, que conta com a logomarca da Heineken.

E isso é algo natural, um homem diante de uma situação difícil, de um momento em que pode perder seu braço e deixar de fazer o que mais gosta, pode cair facilmente na tentação das drogas. Uma espécie de autodestruição que antecipa a destruição causada pela própria doença. Uma destruição ameniza outra, talvez. Jeff foi perdendo o contato com seus amigos de banda, que desconversavam sobre uma possível volta do guitarrista.

Não tenho muito conhecimento de medicina, mas acredito que Jeff deve ter agredido muito seu fígado, sendo que tomava fortes antibióticos e ao mesmo tempo devia tomar umas e outras em bares da tentadora Califórnia. Algumas más línguas diziam que nos últimos tempos o cara estava tomando Heineken e vodca no café da manhã, almoço e jantar E o resultado não poderia ser outro, Jeff Honneman morreu na última quinta-feira por insuficiência hepática.

A morte de Jeff Honneman foi um prato cheio para os carniceiros fundamentalistas de algumas igrejas americanas, que declararam que o guitarrista foi mais um dos músicos mortos por Deus. Chegaram a até postar no twitter: "Qual dos seus ídolos Deus matará na próxima?". Sim, a birra destes carniceiros tem um motivo, o Slayer sempre compôs letras apocalípticas e estampou em suas capas de discos figuras representando o mito do demônio, além de sempre se posicionar de maneira dura em relação ao cristianismo. E agora Deus estaria fazendo justiça, matando Jeff e o mandando para o inferno.

Este fato me fez lembrar dos cultos do polêmico Pastor Marco Feliciano aqui no Brasil, que afirmou que Lennon e os Mamonas foram mortos por Deus por afrontarem princípios religiosos. Cheguei até a imaginar um destes pastores americanos apontando para o cadáver de Jeff Honneman e declarando em alto e bom som: "A aranha foi em nome do pai, a cerveja em nome do filho e a vodca em nome do Espírito Santo".


A morte de Jeff Honneman me fez lembrar de um mito da cultura grega: a Aracne, uma simples mortal que tinha um talento incrível para tecer e bordar. Seu talento era tanto que ela chegou a desafiar a deusa Atena para uma competição de tecelagem. E como castigo por afrontar uma deusa, foi transformada em uma aranha. Sim, a aranha simboliza um castigo por desafiar o divino.

Jeff Honneman desafiou o divino e sua decadência (castigo) começou justamente com uma picada de aranha? Interessante. Estariam os pastores americanos corretos?

Não, isso é só ficção da minha mente que adora coincidências e mitologia grega. Prefiro acreditar que o homem morre e mata em decorrência de seu próprio estado miserável de ser humano, uma criatura frágil. Por que envolvemos Deus e o Diabo em tudo? Por que devemos encarar a morte como um castigo? Esta é minha fé.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Rock para curtir na Fernão Dias

Rock na Fernão Dias - Por Mariana Salimena.

Uma  surpresa nem sempre agrada. Ainda mais quando estamos falando dos rabugentos fãs do rock pesado. O Megadeth apresentou uma surpresa com seu single "Super Collider". E muitos chatinhos torceram o nariz para a banda, argumento de que a música não tem muito a ver com o velho Megadeth, que sempre explorou  letras apocalípticas no trash, ou no speed metal (o rock pesado e rápido mesmo, chega de rótulos idiotas). E a reclamação dos fãs vem do fato da nova música ter uma atitude diferente, que só apareceu em alguns momentos específicos na carreira da banda.

O que é diferente naturalmente gera estranhamento, mas acredito que aos poucos a rabugentice vai se transformando em admiração. Mas para isso acontecer, estes fãs insatisfeitos devem escutá-la deixando de compará-la com o que o Megadeth já fez. "Super Collider" deve ser curtida como se fosse o lançamento de uma banda desconhecida, evitando comparações e pressões.

É uma pena deixamos de apreciar uma música pelo fato desta não parecer muito com o Megadeth das antigas. Isso porque a música é rocão de primeira! Forte com um refrão marcante, talvez pop. Guitarras com bons timbres, batera moendo, baixão pesado e uma voz rouca de um Mustaine empolgado. Aliás a voz do cara está ótima, é interessante reparar sua rouquidão se misturando com o overdrive das guitarras em "Super Collider". E falando de guitarras, elas estão mais contidas nesta música, mas isso não quer dizer que estejam ruins, pelo contrário, estão simples, com arranjos básicos e economizando na fritação (solos rápidos e distorcidos em que não escutamos nenhuma nota). Isso é positivo, queremos escutar as cordas da guitarra e diferenciar as notas uma das outras! Nota dez então para as guitarras de Dave Mustaine e Chris Boderick. Na batera, Shawn Drover trabalhou muito bem seus bumbos, principalmente nas estrofes. O baixo de Davide Ellefson não faz nada de brilhante, faz o apenas o que deveria ser feito, ou seja, contribui para dar peso a música.

Na letra, não encontramos nada de mais, fica nesta ideia: "Você está meio cabisbaixo, vamos pegar a estrada e levantar este astral, vamos explodir". E isso pode ser interpretado dependendo do gosto do freguês. O certo é que a música não traz nenhuma questão filosófica profunda para se refletir. "Super Collider" é um rocão para se curtir naquela viagem entre Sul de Minas e São Paulo, no momento que você pega a Fernão Dias e pode acelerar mais um pouco seu carro e abrir os vidros para sentir o vento batendo em seus cabelos sujos. É uma música fácil de ser digerida, poderia estar em uma trilha sonora de um filme da sessão da tarde, ou até mesmo tocar em rádios populares. Qualquer um pode gostar de "Super Collider", você, seu pai, sua mãe e seu poodle. Só quem não gosta são os rabugentos que vão cortar os pulsos porque o Megadeth não falou de Lúcifer desta vez, ou não foi tão "trash" quanto o Metallica. Mas para estes restam a esperança, afinal de contas daqui  a 33 dias, o Megadeth lança o novo disco, quem sabe lá estes chatos terão uma palavrinha do capeta.

Confiram "Super Collider".

           

sexta-feira, 26 de abril de 2013

John Lennon Cabra Macho

John Lennon  Cabra Macho - Por Mariana Salimena
John Lennon foi um artista de muitas facetas. Vimos o John fanfarrão do começo dos Beatles, que fazia caras e bocas no palco e encantava as garotas em "Twist and Shout". Ouvimos o John lunático em "Lucy In The Sky With Diamonds"- influenciado por algumas doses de LSD. Tivemos a honra de conhecê-lo como um blueseiro suicida em "Yer Blues". Fomos apresentados também ao John inocente-engajado de "Imagine", que queria um mundo melhor. Uma espécie de Bono Vox dos anos 70, mas que protestava em uma bela e confortável cama ao lado da sua companheira, não tão bela assim, Yoko Ono.

Dentre os inúmeros Johns que conhecemos, o mais interessante é o John Cabra Macho de "Jealous Guy", canção justamente do álbum "Imagine" de 1971.  Este John deixa de lado o seu engajamento político e sua luta por um mundo bacaninha, para mostrar como age um artista macho de verdade.  Estamos diante de um  homem tomado pelo sentimento de culpa, assumindo suas fraquezas diante da mulher amada. Isso desperta em mim um sentimento de saudosismo. Pouco vejo nas músicas de hoje em dia um eu lírico masculino assumindo uma fraqueza ou admitindo um sentimento de culpa - talvez eu esteja escutando poucas músicas da atualidade, mas tenho a impressão de que cada vez mais os artistas homens tem dificuldade de assumir suas misérias. Mas é de se entender: assumir um fracasso diante de uma mulher é quase dar um tiro no próprio pé. Só mulheres muito especias aceitam o fracasso e a sensibilidade masculina. Yoko era especial? Sim.

O John de "Jealous Guy" é cabra macho, pois tem a coragem assumir publicamente através de uma canção que é fraco, ciumento, inseguro e, que por isso, nem sempre conseguiu tratar sua amada com a consideração que ela merecia. A música é comovente, um sincero pedido de desculpas. Ouvimos um  artista carregando a cruz de ser humano, não mentindo sobre si mesmo, algo raro hoje em dia.  Só os maiores  conseguem.  São raros os que estão preparados para enfrentar o espelho, ou seja, ficar de frente a frente com a criação miserável - imagem e semelhança de Deus. É muito mais conveniente cantar que somos sexies e rebolar como Mick Jagger, porque isso nos garante mais autoestima e mulheres.

Agradecimento especial para Mariana Salimena, responsável pela ilustração do John Lennon Cabra Macho.

Confiram o clipe de Jealous Guy.

 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Deus pode estar morto, mas o heavy metal é imortal



 "Deus está morto?", a questão levantada por Nieztsche no século XIX é a inspiração do novo single do Black Sabbath, lançado na semana passada. A banda inglesa acertou na mosca ao escolher o polêmico tema filosófico que muito tem a ver com o universo do heavy metal. Aliás, a escolha foi genial, perfeita. Nieztsche e Heavy metal são atemporais, nunca saem de moda. Assim como as ideias do pensador alemão causam calafrios e inquietam nossas almas, o heavy metal ainda incomoda muita gente.

A filosofia de Nieztsche foi se moldando a partir de suas críticas a ideiais religiosas e questões das ciências sociais como, por exemplo, o socialismo e o igualitarismo. Já o Heavy Metal nasceu com o próprio Black Sabath na ressaca da chatinha ideologia hippie. E o que sobrou hoje em dia do socialismo, do igualitarismo e do "paz e amor hippie"? Praticamente nada, não fazem mais sentido: o socialismo fracassou há muito tempo, mas ainda tem gente que não se desapega em nossos diretórios acadêmicos; o igualitarismo é uma balela que virou marketing social, é uma piada ouvir que todos somos iguais; e o que sobrou do universo hippie foram algumas musiquinhas legais, belas roupas floridas nas boutiques e alguns barbudos vendendo missangas e gnomos de durepox em nossas praças.

 O pensamento de Nieztsche e as pancadas do Black Sabbath venceram a força do tempo e fazem sentido até hoje, pois encararam com coragem a possibilidade de Deus não ser tão bonzinho e que é impossível nos considerarmos todos iguais e amarmos uns aos outros. Para você que nasceu lindo, forte, tem uma ótima família e uma rica vida afetiva é fácil dizer que Deus está vivo e é bom, além de todas as pessoas serem legais e capazes de fazer milagres. Mas para você que nasceu feio, gordo, ou magro espinhudo, não tem um bom emprego e nenhum sucesso afetivo, cogitar que Deus não é tão legal assim, ou até que está morto, é algo natural.

A prova disso está na mídia, onde vemos estudos que afirmam que os amantes do heavy metal tem a tendência a sofrer “níveis mais significativos de ansiedade e depressão”. E o heavy metal do Black Sabbath ganhou força nos anos 70 sendo a voz justamente deste público angustiado por não se sentirem priveligiados por Deus ou não tê-lo vivo ao seu lado. Por isso a afinidade com a figura mitológica do demônio é tão grande para os fãs.

Esta angústia provocada pelo Deus morto, ou pelo Deus que supostamente é só bom para poucos, é explorada pelo Black Sabbath nesta sua volta. Não havia maneira melhor de voltar do que relembrando estas questões. Afinal banda surgiu assim, falando sobre a dureza da vida ou do descaso de Deus. E isso é expressado magistralmente em "God Is Dead?".

No início da música a voz de um Ozzy "carcumido" pelo tempo e a levada lenta e muito pesada são as armas usadas pelo Black Sabbath para simbolizar a angústia da dúvida se Deus está morto ou não. Exatamente aos seis minutos e 20 segundos, Tony Iomi começa a usar a velocidade para sugerir um aumento de angústia e a revolta provocada por ela, a música fica mais violenta.

Em termos de timbres, estamos diante de um Sabbath que não tenta inovar, repetindo o bom gosto dos seus primeiros anos. Que som lindo do baixo do Geezer! Simplesmente um dos melhores baixistas da história do rock and roll, é ele quem traz o peso em "God Is Dead?" com seus arranjos influenciados por jazz e blues. Na batera, Brad Wilk deu conta do recado, substituiu Bill Ward com uma pegada matadora, bem estilo Black Sabbath, descendo o braço em viradas precisas. Imagino o orgulho que ele deve estar sentindo. Imagine o orgulho de ser convidado para gravar com o Sabbath? Juntamente com Geezer, Wilk preparou a cozinha do Sabbath para o show dos riffs de Iommi. E o grande Tony está com tudo, parece que conseguiu transferir para música a mesma força que teve para enfrentar o câncer, seus riffs estão animais e fazem qualquer Eddie Van Hallen por aí  morrer de inveja.

 Enfim, se Deus está morto ou não, não sei responder. Só sei que se ele estiver morto, ele está perdendo a grandiosa volta do Black Sabbath, imortalizando o heavy metal através de um tema de Nieztsche. Grande tema, grandes riffs e grande música.