sexta-feira, 26 de abril de 2013

John Lennon Cabra Macho

John Lennon  Cabra Macho - Por Mariana Salimena
John Lennon foi um artista de muitas facetas. Vimos o John fanfarrão do começo dos Beatles, que fazia caras e bocas no palco e encantava as garotas em "Twist and Shout". Ouvimos o John lunático em "Lucy In The Sky With Diamonds"- influenciado por algumas doses de LSD. Tivemos a honra de conhecê-lo como um blueseiro suicida em "Yer Blues". Fomos apresentados também ao John inocente-engajado de "Imagine", que queria um mundo melhor. Uma espécie de Bono Vox dos anos 70, mas que protestava em uma bela e confortável cama ao lado da sua companheira, não tão bela assim, Yoko Ono.

Dentre os inúmeros Johns que conhecemos, o mais interessante é o John Cabra Macho de "Jealous Guy", canção justamente do álbum "Imagine" de 1971.  Este John deixa de lado o seu engajamento político e sua luta por um mundo bacaninha, para mostrar como age um artista macho de verdade.  Estamos diante de um  homem tomado pelo sentimento de culpa, assumindo suas fraquezas diante da mulher amada. Isso desperta em mim um sentimento de saudosismo. Pouco vejo nas músicas de hoje em dia um eu lírico masculino assumindo uma fraqueza ou admitindo um sentimento de culpa - talvez eu esteja escutando poucas músicas da atualidade, mas tenho a impressão de que cada vez mais os artistas homens tem dificuldade de assumir suas misérias. Mas é de se entender: assumir um fracasso diante de uma mulher é quase dar um tiro no próprio pé. Só mulheres muito especias aceitam o fracasso e a sensibilidade masculina. Yoko era especial? Sim.

O John de "Jealous Guy" é cabra macho, pois tem a coragem assumir publicamente através de uma canção que é fraco, ciumento, inseguro e, que por isso, nem sempre conseguiu tratar sua amada com a consideração que ela merecia. A música é comovente, um sincero pedido de desculpas. Ouvimos um  artista carregando a cruz de ser humano, não mentindo sobre si mesmo, algo raro hoje em dia.  Só os maiores  conseguem.  São raros os que estão preparados para enfrentar o espelho, ou seja, ficar de frente a frente com a criação miserável - imagem e semelhança de Deus. É muito mais conveniente cantar que somos sexies e rebolar como Mick Jagger, porque isso nos garante mais autoestima e mulheres.

Agradecimento especial para Mariana Salimena, responsável pela ilustração do John Lennon Cabra Macho.

Confiram o clipe de Jealous Guy.

 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Deus pode estar morto, mas o heavy metal é imortal



 "Deus está morto?", a questão levantada por Nieztsche no século XIX é a inspiração do novo single do Black Sabbath, lançado na semana passada. A banda inglesa acertou na mosca ao escolher o polêmico tema filosófico que muito tem a ver com o universo do heavy metal. Aliás, a escolha foi genial, perfeita. Nieztsche e Heavy metal são atemporais, nunca saem de moda. Assim como as ideias do pensador alemão causam calafrios e inquietam nossas almas, o heavy metal ainda incomoda muita gente.

A filosofia de Nieztsche foi se moldando a partir de suas críticas a ideiais religiosas e questões das ciências sociais como, por exemplo, o socialismo e o igualitarismo. Já o Heavy Metal nasceu com o próprio Black Sabath na ressaca da chatinha ideologia hippie. E o que sobrou hoje em dia do socialismo, do igualitarismo e do "paz e amor hippie"? Praticamente nada, não fazem mais sentido: o socialismo fracassou há muito tempo, mas ainda tem gente que não se desapega em nossos diretórios acadêmicos; o igualitarismo é uma balela que virou marketing social, é uma piada ouvir que todos somos iguais; e o que sobrou do universo hippie foram algumas musiquinhas legais, belas roupas floridas nas boutiques e alguns barbudos vendendo missangas e gnomos de durepox em nossas praças.

 O pensamento de Nieztsche e as pancadas do Black Sabbath venceram a força do tempo e fazem sentido até hoje, pois encararam com coragem a possibilidade de Deus não ser tão bonzinho e que é impossível nos considerarmos todos iguais e amarmos uns aos outros. Para você que nasceu lindo, forte, tem uma ótima família e uma rica vida afetiva é fácil dizer que Deus está vivo e é bom, além de todas as pessoas serem legais e capazes de fazer milagres. Mas para você que nasceu feio, gordo, ou magro espinhudo, não tem um bom emprego e nenhum sucesso afetivo, cogitar que Deus não é tão legal assim, ou até que está morto, é algo natural.

A prova disso está na mídia, onde vemos estudos que afirmam que os amantes do heavy metal tem a tendência a sofrer “níveis mais significativos de ansiedade e depressão”. E o heavy metal do Black Sabbath ganhou força nos anos 70 sendo a voz justamente deste público angustiado por não se sentirem priveligiados por Deus ou não tê-lo vivo ao seu lado. Por isso a afinidade com a figura mitológica do demônio é tão grande para os fãs.

Esta angústia provocada pelo Deus morto, ou pelo Deus que supostamente é só bom para poucos, é explorada pelo Black Sabbath nesta sua volta. Não havia maneira melhor de voltar do que relembrando estas questões. Afinal banda surgiu assim, falando sobre a dureza da vida ou do descaso de Deus. E isso é expressado magistralmente em "God Is Dead?".

No início da música a voz de um Ozzy "carcumido" pelo tempo e a levada lenta e muito pesada são as armas usadas pelo Black Sabbath para simbolizar a angústia da dúvida se Deus está morto ou não. Exatamente aos seis minutos e 20 segundos, Tony Iomi começa a usar a velocidade para sugerir um aumento de angústia e a revolta provocada por ela, a música fica mais violenta.

Em termos de timbres, estamos diante de um Sabbath que não tenta inovar, repetindo o bom gosto dos seus primeiros anos. Que som lindo do baixo do Geezer! Simplesmente um dos melhores baixistas da história do rock and roll, é ele quem traz o peso em "God Is Dead?" com seus arranjos influenciados por jazz e blues. Na batera, Brad Wilk deu conta do recado, substituiu Bill Ward com uma pegada matadora, bem estilo Black Sabbath, descendo o braço em viradas precisas. Imagino o orgulho que ele deve estar sentindo. Imagine o orgulho de ser convidado para gravar com o Sabbath? Juntamente com Geezer, Wilk preparou a cozinha do Sabbath para o show dos riffs de Iommi. E o grande Tony está com tudo, parece que conseguiu transferir para música a mesma força que teve para enfrentar o câncer, seus riffs estão animais e fazem qualquer Eddie Van Hallen por aí  morrer de inveja.

 Enfim, se Deus está morto ou não, não sei responder. Só sei que se ele estiver morto, ele está perdendo a grandiosa volta do Black Sabbath, imortalizando o heavy metal através de um tema de Nieztsche. Grande tema, grandes riffs e grande música.