terça-feira, 28 de maio de 2013

John Charles Fiddy e suas músicas de fundo do seriado Chaves

Os inesquecíveis bordões, as ótimas piadas, as trapalhadas idiotas, os personagens divertidíssimos e os roteiros originais tornaram o seriado "Chaves" um dos mais aclamados pelo público em todo o mundo. Um dos fatores que contribuíram para o sucesso mundial foi o trabalho das produtoras responsáveis pelas adaptações do programa para outras línguas. Por exemplo, quando chegou ao Brasil no início dos anos 80, o seriado vindo do México precisou de ser adaptado à TV brasileira. Algumas piada e bordões necessitavam ser modificados para fazerem sentido ao público nacional. O "no me simpatizas" do Quico, tornou-se "Você não vai com minha" e o "Cállate, Cállate, que me deseeeeeeeeeeeesperas" passou para "Cale-se, Cale-se, que você me deixa louuuuuuuuuco". Estas e outras sutis alterações foram fundamentais para que os bordões e as piadas se imortalizassem.

 A responsável por este trabalho de adaptação foi a produtora Maga, que funcionava no SBT em São Paulo. Silvio Santos acertou em cheio ao dar a incumbência para Marcelo Gastaldi (dublador do Chaves) e sua equipe de dubladores. A galera da Maga fez o trabalho de maneira impecável, tanto é que eu acho a versão brasileira do "Chavo del Ocho" mais engraçada do que a original. As vozes de Carlos Seidl (Seu Madruga) e de Nelson Machado (Quico) fazem muita falta quando se assiste a versão mexicana.

Além do trabalho de adaptação de texto e da dublagem, a Maga tinha a difícil tarefa de escolher os BGMs (músicas de fundo) dos episódios.Dizem alguns blogueiros e sites especializados no seriado que Marcelo Gastaldi foi o responsável pela escolhas dos BGMs. Seja quem for o responsável, o certo mesmo é que a versão brasileira do seriado tem músicas que se imortalizaram junto com as piadas e histórias fantásticas. A maioria das músicas imortais utilizadas no seriado foram compostas pelo músico britânico John Charles Fiddy, um especialista em trilhas de vinhetas, de propagandas e de seriados de TV.
John Charles Fiddy em apresentação no Japão - 1975

Neste momento, alguns leitores, podem estar perguntando: "O que tem a ver as músicas do Fiddy que estão no seriado Chaves com rock and roll? Por que este assunto está num blog de rock?". Não gosto muito de me justificar, mas acho necessário neste artigo. O primeiro motivo é que as músicas do John Fiddy podem não ter muitas características do rock, no entanto, comovem, animam, emocionam e tem muito mais pegada e sinceridade do que músicas de bandas consideradas de rock. Alguém se emociona ou sente a garra rock and roll com o U2, por exemplo? Eu me emociono e identifico algumas características de rock and roll nas músicas de John Fiddy, principalmente no feeling. É claro que meu conceito de rock (discutirei isso em próximos artigos) é um pouco diferente da maioria, mas para mim este cara é rock and roll na véia O outro motivo é que John Fiddy já trabalhou algumas vezes com monstros sagrados do rock. O cara foi participou da produção do álbum "Salisbury" da aclamadíssima banda Uriah Heep.

Pronto, já temos bons motivos para discutir sua obra e homenageá-lo no Rock Spades. Graças ao estúdio Maga e ao SBT, muitas gerações estão sendo contempladas com boas piadas e músicas desta lenda viva.

A seguir, os fãs deste blog  tem à disposição as principais músicas de John Charles Fiddy que estão presentes em diversos episódios de "Chaves".

In a Hurry: Melhor faixa de John Fiddy. Como ele é baixista, notamos em suas composições um trabalho bem elaborado nas quatro cordas. Nesta música o baixo executa uma linha cromática, estilo jazz, com variação de oitavas. Os arranjos de percussão são muito legais: chimbal e pandeiro meia lua. Cutucadas da flauta e os arranjos de guitarra aparecem com precisão. Isso para mim é rock and roll do bão. "In a Hurry" toca em vários episódios, um deles é do "Seu Madruga Eletricista" no momento em que Seu Madruga leva choques.

 

Boys: toca no episódio "Os Farofeiros" (Acapulco). Muito legal o trabalho de bumbo no início da música. A melodia em flauta é contagiante. Duvido que você não vai assoviá-la. Novamente o baixo usa variações de oitavas.



By The River: Quem já assistiu o "Dejejum do Chaves" com certeza curtiu esta bela melodia de clarinete acompanhada por um violão de cordas de nylon.



Corn Ball: este é um dos BGs mais usados nos episódios. Tem alguns intrumentos que nem imagino o nome. E o baixão do Charles Fiddy trabalhando firme novamente... Pura sensação de nostalgia, saudade da infância.



Frightened: esta aparece mais vezes no Chapolin do que no Chaves. Toca no episódio do "Bebê Jupteriano". É uma música de suspense, tendo o piano como principal instrumento.



Mechanical Toys: guitarrinha contagiante, baixão moendo com timbre fodão e de novo variação de oitavas. Isso é rock and roll. toca no episódio "Seu Madruga Cabelereiro" e muitos outros.



Mum: tema usado em momentos tristes dos episódios. Base com violão de aço e solo de um instrumento que não sei se é flauta ou clarineta, só sei que é bom.



On The Go: Esta está no episódio "Escorpião". Baixão volumosos segurando as pontas para as melodias de flauta e sintetizadores.



Playing With Toys: música usada geralmente em inícios de episódios. Melodia de flauta e base em violão de cordas de aço.



Running Away: Esta toca no episódio "Seu Madruga Cabelereiro". Dona Florinda diz: "Ande logo, Tesouro, você precisa ir cortar o cabelo". Neste momento, começa tocar esta música e o episódio vai para o intervalo. Os espectadores ficam na expectativa do que será que vai acontecer quando o Quico souber que o cabelereiro é na verdade é o Seu Madruga. Essa expectativa é representada neste tema com um sintetizador violento e ótimos arranjos de guitarra. Essa é uma das composições mais "rock and roll" do John Fiddy.



Skiping: este foi o tema da primeira abertura de Chaves no Brasil. Um tema feliz, que conta com com instrumentos de sopro e outros que não imagino o nome, devem ser instrumentos da cultura britânica.



Story Time: Música que é usada no início do episódio. "Aniversário do Seu Madruga". Dá a sensação de o começo de uma história. Tem um bumbo marcante no momento em que a música vai evoluindo e ganhado "corpo".



Time for Bed: outra versão da música "Boys".



Waking up: música calma, está em vários episódios de "Chaves" e no episódio "Conde Terra Nova" de "Chapolin". Muito bom o trecho final, em que a flauta ganha a companhia de um violão na melodia.



Walking the Dog: está nos episódios de Acapulco. Baixão oitavando, como vimos, característica marcante de Fiddy. Um som parecido com uma guitarra wah-wah faz a mesma melodia do baixo. Essa é uma das melhores!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

E as portas da percepção se abrirão

Ray Mazarek por Mariana Salimena
A morte cria santos e gênios repentinamente. Após Chorão partir, muitos passaram a saber que só os loucos sabiam. Isso é da natureza humana, cometemos o pecado de estimar ou superestimar alguém depois da sua morte. Sim, na maioria das vezes só valorizamos quando perdemos, um pensamento clichê, senso comum. Não é regra, mas se aplica a muitos casos.

Já cometi este pecado muitas vezes, valorizei muito mais o James Dio depois de sua morte, por exemplo. Mas graças a Deus, consegui homenagear muitas vezes a figura que nos deixou na última segunda-feira.  Alíás, três semanas atrás celebrei a obra de Ray Mazarek  em um bar decadente no bairro Alto dos Passos em Juiz de Fora. Toquei "Love me Two Times" e "People are Strange"  acompanhado de um gordo de 220 quilos e alguns fãs de  O Rappa que não entendiam nada do que eu cantava. É claro, os Doors não falavam de "marmita amassada na mochila". Enfim...

Não fiquei triste com a morte de Mazarek. "That's life" como diria Sinatra, mantive minha serenidade. Ao invés de lamentar prefiro discutir um pouco sobre o The Doors e a estética musical inovadora que eles apresentaram nos anos 60.

Até aquele momento na história do rock and roll, o mundo viu poucas ocasiões em que o teclado era o principal instrumento de uma banda. Nos anos 50, até tivemos Jerry lee Lewis e Little Richard que arrebentavam nas teclas, mas do piano. Teclado-sintetizador-órgão como protagonista foi apenas nos anos 60.

Nesta época dourada do rock, Ray Mazarek surgiu nos Estados Unidos com um novo som poderoso que deixava a guitarra em segundo plano. Seu teclado era a alma de sua banda, sustentava o ego de Jim Morrison. Criava o palco para o patético show de dramaticidade do poeta bonitão. Talvez as apresentações escandalosas do Jim eram umas de suas armas para atrair ainda mais a atenção do público para si e ofuscar o único gênio de verdade da banda.

Morrison era um maravilhoso letrista, mas medíocre cantor e um atorzinho no palco. Se não fosse o Mazarek, o Jim Morrison talvez seria um nome perdido na poeira de sebos. O verdadeiro gênio da banda era tão importante que valia por dois. Ter Mazarek significava ter ao mesmo tempo  um tecladista virtuosíssimo e um baixista que nunca perde o fio da meada - cada mão valia por um músico. É menos um para dividir a grana, ou as atenções (risos?).

Acho que um dos poucos "erros" de Mazarek foi aceitar o fato do Jim Morrison sempre estar nas capas, transmitindo a imagem que a banda se resumia àquela bela figura - o cara aceitou o "marketing", e é claro que lucrou em cima da imagem do polêmico vocalista. Dinheiro é sempre bem vindo, mesmo que custe alguns holofotes a menos para o tecladista. Se não fosse o Morrison, talvez Mazarek também ficasse esquecido como um gênio nunca escutado. Mas acho que Mazarek poderia se impor mais...Também considero ridículo o fato do filme "The Doors" ter esse nome, devia chamar "Morrison". Poucos detalhes são mostrados sobre os outros integrantes da banda.

Sobre os acertos de Mazarek, é fácil citar vários. Timbres excêntricos que criam cenários interessantíssimos. Suas harmonias nos provocam misturas de sensações que vão do sombrio de "When The Music is Over" e o circense de "Alabama Song", só para citar as mais clássicas. Ouvir seu teclado é ser convidado a um mundo diferente: cheio de poesia, situações sombrias e metáforas absurdas. Assim como Mariana Salimena ilustra minhas palavras, Mazarek "desenhava" a poesia de Morrison por meio de sua infinita variedade de texturas sonoras.

Espero que os fãs de O Rappa que estavam me ouvindo tocar The Doors se comovam com a morte do Mazarek. Confio que eles lerão a notícia da morte de "um tal Mazarek" em algum site qualquer (pode ser este), ficarão curiosos e depois escutarão a beleza do teclado. Neste caso seria interessante que a morte os faça valorizar quem realmente mereça. Espero que a morte crie para eles um gênio repentino que mostra a arte indo além da marmita amassada, do ônibus lotado e do muro pichado na favela. Torço para que a morte abram as portas da percepção para esses caras.

Este blog falará muito mais sobre Mazarek. Por enquanto é isso. Fiquem com um vídeo dos  Doors em que Mazarek vale por três: baixista, vocalista e tecladista. A qualidade é horrível, mas é um registro histórico.



 Aqui temos mais um, já com Mazarek velhão cantando "Riders on the Storm" :

 



sexta-feira, 17 de maio de 2013

Boneca Virtual x Freira Gostosa

Musa Estilo Restart - Por Mariana Salimena

Nesta linda noite de sexta-feira, dissertarei sobre o lançamento de dois clipes de rock and roll, enquanto como uns biscoitinhos de banana com canela. Alíás, biscoito doce tem tudo a ver com a banda que lançou o clipe "Cara de Santa" esta semana, os fofos do Restart. O problema é que este meu quitute não tem nada a ver com a outra banda que também divulgou seu novo clipe, o Deep Purple (acho que com essa combinaria mais uma boa picanha mal passada).

O que me levou a unir Restart e Deep Purple no mesmo artigo foi o fato de que em ambos os clipes contam com musas! E estas musas praticam a belíssima arte do pole dance. Quem diria? O Restart tendo musas, por um bom tempo pensei que eles fossem assexuados, uma espécie de Teletubies com guitarras. Mas eu estava enganado, a letra da música tem termos que sugerem o ato da masturbação: "ficar na mão". Além de vocalizações de "ahns, ahns, ahns" que insinuam uma cópula. Safadinhos estes coloridos, hein? Você que ainda não viu o clipe e está lendo agora estas minhas palavras deve estar pensando: "Pô, os caras do Restart estão amadurecendo, já fazem ahns, ahns, ahns, ô ô ô ô e já se masturbam?". Até poderia ser animador, mas não é. Não tem como ser animador a partir do momento que você assiste o clipe e vê quatro coloridinhos flertando com uma boneca virtual, uma musa feita no 3D Max.

Ao fazer rock and roll, por que não colocar uma mulher de verdade para interpretar a musa-com-cara-de-santa-que-se-faz-de-inocente-mas-gosta-do-love-love-love-love-me? A resposta é simples, o público do Restart é um público que está começando agora a conhecer seus pelos pubianos. Talvez colocar uma musa de verdade, deixaria o clipe com um "arzinho" de inapropriado para melhores. A bonequinha virtual deixa o clipe mais fofinho, a questão sexual torna-se mais lúdica, quase uma diversão. Em outras palavras o  Restart está promovendo um flerte sexual "politicamente correto" (para usar o termo tão difundido atualmente), respeitando a idade de seu público.

Interpreto isso como uma tentativa da banda de preparar seu público para a transição entre a vida púbica e a adulta. A banda vai envelhecendo junto com seus fãs e seria um tanto incoerente se eles continuassem a cantar musiquinhas que serviriam de trilha sonora para o Patati-Patatá. Assim notamos uma banda que aos poucos vai inserindo questões mais maduras em suas músicas. Um Restart que coloca devagarinho para romper cuidadosamente o hímem de seu público e não provocar um sangramento abundante.  Um ato de prudência para não estragar o ridículo conto de fadas que criou nos últimos anos e que ainda rende um rico dinheirinho. De qualquer forma não deixa de ser brochante falar de sexo usando uma bonequinha virtual.

Enquanto o Restart se preocupa com o hímem de seu público, do outro lado do Atlântico o  Deep Purple não tem com o que se preocupar. Os velhos fizeram um clipe ruim, mas divertidíssimo homenageando Vincent Price, um célebre ator de filmes de terror. Ao invés de usar figuras estilo disneylândia, eles apostaram em tradicionais figuras do cinema trash: o Vampiro, o Frankstein e a Múmia. Uma estética que imita os filmes do ator homenageado, o clipe nos mostra uma espécie de pastelão de terror.

O vídeo em si é uma bosta, mas a tragédia seria maior se a música não fosse tão sensacional e o clipe não contasse com uma musa melhor ainda. Pe Lanza nenhum botaria defeito na freira gostosa que pratica um maravilhoso "pole dance" para um vampiro bobão. A musa do Deep Purple é a mistura o sagrado ao profano e nos proporciona uma excitante sensação de culpa por estar desejando invadir sexualmente uma figura "sacra". E a culpa é um tempero do tesão. Muitas vezes uma freira é mais excitante que uma paniquete. Comeríamos uma paniquete sem culpa, mas a freira...

A coincidência é que o Restart também usa  a questão do sagrado ao dizer "cara de santa", mas é algo bem sutil, não se compara a uma freira de lingerie.

Enfim, os lançamentos desses dois clipes revela o contraste entre uma eterna banda de rock and roll e uma banda que é um produtinho cultural.  Esta última se preocupa em ser conveniente com seu público - ou melhor com os pais do público, são eles que levam os filhos ao show e se decidirem que o conteúdo é inadequado, Pe Lanza e os teletubies não ganharão suas gorjetas. Por isso a necessidade de oferecer bonequinha virtual.Já banda  que faz rock and roll sincero tem a liberdade de oferecer uma freira libidinosa ao seu público. Afinal, esses fãs já  foram descabaçados em 1972 no lançamento do álbum Machine Head. O público do Deep Purple há muito tempo é uma dominatrix com o o grelo do tamanho de um mamão papaia, profundo e púrpuro.

Confiram os vídeos de "Cara de Santa" e de "Vincent Price".












segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um lobo reacionário

"Tropicália sobre Lobão" - Por Mariana Salimena 
O polêmico Lobão volta à cena! Nas últimas semanas o roqueiro carioca tem sido assunto em nossos principais veículos de comunicação. Isso devido ao lançamento do seu segundo livro: "Manifesto do Nada na Terra do Nunca", o obra em que critica a política e a cultura nacional.

O engraçado que o Lobão causou polêmica antes mesmo de lançar o livro, isso por conta de uma entrevista ácida que deu para a Folha de São Paulo no último dia 2. Suas declarações sobre a Presidente Dilma, sobre os Racionais e sobre a Tropicália, assuntos estes que são tratados no livro, não foram bem digeridas por alguns. Principalmente pelo líder dos Racionais, Mano Brown. É claro, Lobão afirmou que "Os Racionais são o braço armado do governo, são os anseios dos intelectuais petistas, propaganda de um comportamento seminal do PT".  Tal declaração fez Mano Brown ser irracional e chamar, via twitter, o cara para uma briga.

Sobre a Presidenta Dilma, disse que a tão falada "Comissão da Verdade" deve investigar também o passado   de nossa atual líder de Estado e que não acredita em vítimas da ditadura. Lobão afirma que Dilma tem uma ficha criminal ampla.

Em relação à Tropicália, Lobão se diz desinteressado e que o movimento foi um fruto da Semana de Arte Moderna de 22. Na visão dele, a famosa semana de arte quebrou o academicismo, mas os movimentos que vieram depois (inspirados na própria semana de arte) acabaram criando uma outra espécie de academicismo. Um academicismo liderado por intelectuais de esquerda, que segundo Lobão são os "campeões mundiais de punheta de pau mole". Neste grupo de intelectuais, Lobão inclui nomes respeitados na cultura nacional: Gilberto Gil e Chico Buarque, por exemplo.

Tais críticas são feitas há muito tempo por Lobão. Por isso carrega o rótulo de polêmico. Mas de um tempo para cá, Lobão passou a ser adjetivado com um termo que voltou à moda: reacionário, ou "reaça" para os mais moderninhos. Lembrei que um dos grandes mestres da dramaturgia e literatura brasileira também foi chamado de reacionário. Sim, Nelson Rodrigues até escreveu um livro com o título "O Reacionário".  Em 1977 o "anjo pornográfico" já falava que a esquerda estava virando direita. Outra figura nacional que está carregando a cruz de ser um "reaça" é o filósofo Luiz Felipe Pondé, um duro crítico do comportamento "politicamente correto".

Mas o que o roqueiro Lobão, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o filósofo Luiz Felipe Pondé tem em comum para serem chamados de reacionários? A resposta é coragem e caráter. Os três não tem medo de falar o que pensam. Eles denunciam uma cultura em que mentir sobre nós mesmos se tornou chique! Afinal de contas, é lindo dizer que somos simpáticos, que são geniais os nossos intelectuais que não produzem nada interessante há anos, que somos moderninhos por ter uma mulher na presidência, que ser pobre é lindo e que não temos preconceito.  Tudo isso tem uma certa ligação com certos conceitos lançados pela Semana de Arte Moderna de 22. E estes conceitos moldaram o pensamento de nossos intelectuais de esquerda.

E até hoje estamos nessa mediocridade cultural e política. E poucos foram cabra-macho para bater de frente com nossos monstros sagrados de nossa cultura. E por que? Simplesmente porque se você gostar ou fingir gostar de Caetano, Gil,  Chico e Marisa Monte você é tido como "cool" diante da esquerda intelectual que domina este país. Em uma conversa, você pode ganhar a gatinha hippie de boutique dizendo que gosta de Gil e todos da Tropicália. Puxar saco dessas múmias, ou morto vivos de nossa cultura se tornou uma espécie de comportamento padrão para conquistarmos uma aura de inteligentes, uma "intelectualidade USP" como diz Lobão.

Mas alguém parou para analisar friamente e perguntou para si mesmo: "Esses caras são realmente geniais?". Por exemplo, a "Ópera do Malandro do Chico Buarque é genial?". "Caetano é um gênio?". Às vezes acho que se o Chico Buarque fizesse um cocô na calçada todos nós acharíamos que aquelas fezes são geniais. E algum órgão da cultura lutaria para tombar a calçada e nomear o cocô do Chico como patrimônio da nação.

Enfim, Lobão parou para pensar nestas coisas e não só isso, escreveu um manifesto que estou ansioso para ler. Eu sinceramente nunca tinha parado para pensar se o Gil, ou o Chico realmente são gênios. Para mim eram gênios e pronto - até já escrevi uma música inspirada no Chico. De qualquer forma, Lobão me fez parar para pensar sobre a possibilidade deste membro da família Buarque não ser genial. Assim como Nelson me fez refletir sobre nossos sentimentos mais sombrios e Pondé conseguiu me fazer ser contra o feminismo e o politicamente correto.

Graças a esses caras, consegui descer do muro. Ainda gosto do Chico, mas isso não impede de tê-lo como inimigo. Afinal, como diz o Seu Madruga: "As pessoas boas devem amar seus inimigos".

Piadas à parte, caras como o Lobão, Nelson e Pondé me ajudaram a definir quais são justamente meus inimigos.  E concluí que são os "cretinos fundamentais" denunciados pelo Nelson, são os "inteligentinhos" acusados por Pondé e os "intelectuais da punheta de pau mole" criticados por Lobão. Esse tipo de gente parece menininha histérica, que quando criticada diz: "Você é feio, bobo, chato". Na verdade eles substituem o "feio, bobo e chato", por "reacionário, fascista e preconceituoso". São sempre estas acusações, tudo muito previsível. No caso do Lobão, eles acrescentam outros termos pífios: "Drogado, velha rabugenta, viciado".

Mas o que o Lobão é de verdade é um roqueiro autêntico e inteligentíssimo. É o nosso lobo reacionário que fareja hipocrisia e carrega o mais puro espírito contestador do rock and roll. Alíás, ouso dizer que Nelson e Pondé também são roqueiros. Carregam este sentimento, essa vontade de opinar e provocar reflexão. Isso é rock and roll! E Nelson e Pondé são mais roqueiros que  qualquer bandinha metida a inteligente, tipo Los Hermanos e Teatro Mágico. E para isso nem precisaram fazer um acorde de guitarra.

Confiram a entrevista do Lobão no "Agora é Tarde" da Band no dia 07/05/2013.
 




quarta-feira, 8 de maio de 2013

Por que isso não toca na balada?

"Selo de Qualidade Bob Ezrin" - Por Mariana Salimena.
Ian Gillan não grita mais como uma ninfomaníaca em orgasmos múltiplos. O Steve Morse não tem timbres tão legais quanto o rei da autoestima Richie Blackmore. Don Airey é fodão nos teclados, mas não é o finado gênio John Lord. Todos estes fatos serviriam como premissas para que os fãs mais rabugentos não curtissem o novo disco do Deep Purple. Ufa, graças a Deus, não ando rabugento nestes últimos dias. O disco é ótimo! E boa parte da crítica especializada compartilha desta minha opinião.

"Now what?!" é o primeiro trabalho de inéditas da banda inglesa em 8 anos. O Purple voltou com muita qualidade e ganhou a ajudinha de um produtor que tem um currículo de respeito. Bob Ezrin produziu simplesmente o maior clássico do Pink Floyd, "The Wall".

Quando ouvi algumas músicas tive uma primeira impressão não muito boa. Os teclados estavam soando com um timbre meio oitentista. Logo fiquei desesperado, pensei: "Putz, o Deep Purple soava como o Europe de 'The Final Countdown', será que eles estão usando blusas com ombreiras e permanentes no cabelo?".  Depois que escutei novamente o disco, a impressão foi totalmente diferente, o teclado é sensacional. Acho que na primeira audição eu estava sofrendo com alguns recalques, tenho traumas dos teclados oitentistas.

O Deep Purple está de parabéns. Steve Morse toca de maneira serena, sem ser um virtuoso eufórico, seus riffs soam cheios e graves. Seu timbre não é vintage, mas é de bom gosto. Sua pegada em "Hell To Pay", ao melhor estilo hard rock, é sensacional. Finalmente ele está conseguindo combinar seu estilo ao Deep Purple. Já Roger Glover é o mesmo de sempre, discreto. Acho que o baixo poderia ter um volume mais alto, no entanto isso não que dizer que o velho não tenha feito um bom trabalho. Glover segura as pontas para os seus parceiros de banda brilharem, é um grande músico.  Como já foi dito, Don Airey (o mesmo do sombrio teclado de Mr. Crowley de Ozzy) não soou Europe. Seus solos são maravilhosos e dialogam perfeitamente com a guitarra de Steve Morse. O solo de "Weidstan" é ótimo e tem um timbre maluco!

O lendário Ian Paice continua com um swing incrível na bateria, parece o mesmo dos anos setenta, nem os mais rabugentos conseguirão reclamar deste cara. O tempo não passa para ele. Sua canhota continua pesada, isso fica evidente em "Body Line". Já Ian Gillan parece estar respeitando sua idade e cantando muito bem como um senhor que tem consciência dos seus limites. Depois de 67 anos de berros, ele mostra que esta aprendendo a poupar sua voz para mais alguns anos de palco. Ele é um dos maiores vocalistas da história, não podia acabar com um calo nas cordas vocais e ser um Zezé di Camargo do rock and roll.

Apesar de respeitar sua idade no quesito vocal, Ian Gillan continua interpretando um garotão libidinoso nos temas do Deep Purple. Em "Body Line", o eu lírico é uma rapagão que fica paquerando uma gostosa que dança loucamente em uma balada. Quase um "Ai se eu te pego", versão rock and roll. Brincadeirinha, a música é boa.

Esta é a música que mais me chamou a atenção no disco. Tem riffs legais, duelo de guitarra e teclado, batera moendo e swing de música para realmente dançar na balada. Tive até o sentimento utópico de quem sabe ouvir o Deep Purple em uma balada aqui na minha cidade.

Imaginei até a cena. Eu chegando em uma balada (dessas que tem essas meninas com vestidos iguais aos das primas dançando arrocha e Mr. Catra) e o som do Deep Purple sendo tocado pelo DJ Zulu. Passou pela minha mente a imagem dos garotões fortões com suas camisetas de golas "V" tirando as meninas de vestidos de bandagem para dançar "Body Line" - muito ice e energético na parada. E pensei: "Por que isso não toca na balada?".

Capa do disco Now What?!
A resposta veio rápido, quando lembrei do grande especialista em rock and roll Adriano Falabella e seu bordão incrível: "Rock and Roll é para quem merece". Simples, rock and roll não toca na balada porque rock and roll é para quem merece.  Ah, se você merecer, o novo disco do Deep Purple estará em nossas melhores lojas a partir desta sexta-feira. Vida longa ao Purple!

Obs: Ainda não temos a música disponível para postar aqui no blog. Assim que tiver, vou postá-la



  

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Uma aranha em nome do Pai, uma cerveja em nome do Filho e uma vodca em nome do Espírito Santo

Ilustração de Mariana Salimena
Uma picada de aranha foi o começo do fim para Jeff Honneman. Há dois anos, enquanto relaxava em uma banheira de hidromassagem bebendo umas cervejas, Jeff percebeu que seu braço direito havia sido picado por uma aranha. Uma hora depois  começou a se sentir mal e, segundo o próprio, viu que a carne de seu braço estava apodrecendo. Partiu para o hospital, e recebeu o seguinte diagnóstico: a mordida da aranha contribuiu para que o guitarrista do Slayer desenvolvesse uma infecção bacteriana que ataca as camadas mais profundas da pele, causando necrose de tecidos. Jeff teve fascite necrosante, um nome de doença tão trash quanto as músicas do Slayer.

A doença era séria, Jeff corria risco de vida e até teve que ser induzido ao estado de coma. Além disso, passou por cirurgias no braço direito onde removeu tecidos mortos e recebeu enxertos. Jeff estava por tempo indeterminado fora da banda que fundou. Aos poucos foi melhorando através de tratamentos com fortes antibióticos. Em seguida passou a fazer fisioterapia para recuperar sua forma física e ganhar força no braço e poder voltar a tocar guitarra.

Ao longo do tempo que ficou afastado do Slayer, seu companheiros de banda chegaram a divulgar que Jeff estava se recuperando bem. E os fãs tiveram uma grata surpresa em abril do mesmo ano, quando o cara chegou a subir ao palco novamente com sua velha banda para tocar dois de seus clássicos em um show na  Califórnia. Na ocasião chegou até a declarar: "Sou o homem mais feliz do mundo".

No entanto, a volta definitiva para o Slayer não acorreu. Enquanto, se recuperava da infecção, Jeff criou uma intimidade ainda maior com uma velha paixão: a bebida alcóolica. A prova disso está em uma de suas guitarras, que conta com a logomarca da Heineken.

E isso é algo natural, um homem diante de uma situação difícil, de um momento em que pode perder seu braço e deixar de fazer o que mais gosta, pode cair facilmente na tentação das drogas. Uma espécie de autodestruição que antecipa a destruição causada pela própria doença. Uma destruição ameniza outra, talvez. Jeff foi perdendo o contato com seus amigos de banda, que desconversavam sobre uma possível volta do guitarrista.

Não tenho muito conhecimento de medicina, mas acredito que Jeff deve ter agredido muito seu fígado, sendo que tomava fortes antibióticos e ao mesmo tempo devia tomar umas e outras em bares da tentadora Califórnia. Algumas más línguas diziam que nos últimos tempos o cara estava tomando Heineken e vodca no café da manhã, almoço e jantar E o resultado não poderia ser outro, Jeff Honneman morreu na última quinta-feira por insuficiência hepática.

A morte de Jeff Honneman foi um prato cheio para os carniceiros fundamentalistas de algumas igrejas americanas, que declararam que o guitarrista foi mais um dos músicos mortos por Deus. Chegaram a até postar no twitter: "Qual dos seus ídolos Deus matará na próxima?". Sim, a birra destes carniceiros tem um motivo, o Slayer sempre compôs letras apocalípticas e estampou em suas capas de discos figuras representando o mito do demônio, além de sempre se posicionar de maneira dura em relação ao cristianismo. E agora Deus estaria fazendo justiça, matando Jeff e o mandando para o inferno.

Este fato me fez lembrar dos cultos do polêmico Pastor Marco Feliciano aqui no Brasil, que afirmou que Lennon e os Mamonas foram mortos por Deus por afrontarem princípios religiosos. Cheguei até a imaginar um destes pastores americanos apontando para o cadáver de Jeff Honneman e declarando em alto e bom som: "A aranha foi em nome do pai, a cerveja em nome do filho e a vodca em nome do Espírito Santo".


A morte de Jeff Honneman me fez lembrar de um mito da cultura grega: a Aracne, uma simples mortal que tinha um talento incrível para tecer e bordar. Seu talento era tanto que ela chegou a desafiar a deusa Atena para uma competição de tecelagem. E como castigo por afrontar uma deusa, foi transformada em uma aranha. Sim, a aranha simboliza um castigo por desafiar o divino.

Jeff Honneman desafiou o divino e sua decadência (castigo) começou justamente com uma picada de aranha? Interessante. Estariam os pastores americanos corretos?

Não, isso é só ficção da minha mente que adora coincidências e mitologia grega. Prefiro acreditar que o homem morre e mata em decorrência de seu próprio estado miserável de ser humano, uma criatura frágil. Por que envolvemos Deus e o Diabo em tudo? Por que devemos encarar a morte como um castigo? Esta é minha fé.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Rock para curtir na Fernão Dias

Rock na Fernão Dias - Por Mariana Salimena.

Uma  surpresa nem sempre agrada. Ainda mais quando estamos falando dos rabugentos fãs do rock pesado. O Megadeth apresentou uma surpresa com seu single "Super Collider". E muitos chatinhos torceram o nariz para a banda, argumento de que a música não tem muito a ver com o velho Megadeth, que sempre explorou  letras apocalípticas no trash, ou no speed metal (o rock pesado e rápido mesmo, chega de rótulos idiotas). E a reclamação dos fãs vem do fato da nova música ter uma atitude diferente, que só apareceu em alguns momentos específicos na carreira da banda.

O que é diferente naturalmente gera estranhamento, mas acredito que aos poucos a rabugentice vai se transformando em admiração. Mas para isso acontecer, estes fãs insatisfeitos devem escutá-la deixando de compará-la com o que o Megadeth já fez. "Super Collider" deve ser curtida como se fosse o lançamento de uma banda desconhecida, evitando comparações e pressões.

É uma pena deixamos de apreciar uma música pelo fato desta não parecer muito com o Megadeth das antigas. Isso porque a música é rocão de primeira! Forte com um refrão marcante, talvez pop. Guitarras com bons timbres, batera moendo, baixão pesado e uma voz rouca de um Mustaine empolgado. Aliás a voz do cara está ótima, é interessante reparar sua rouquidão se misturando com o overdrive das guitarras em "Super Collider". E falando de guitarras, elas estão mais contidas nesta música, mas isso não quer dizer que estejam ruins, pelo contrário, estão simples, com arranjos básicos e economizando na fritação (solos rápidos e distorcidos em que não escutamos nenhuma nota). Isso é positivo, queremos escutar as cordas da guitarra e diferenciar as notas uma das outras! Nota dez então para as guitarras de Dave Mustaine e Chris Boderick. Na batera, Shawn Drover trabalhou muito bem seus bumbos, principalmente nas estrofes. O baixo de Davide Ellefson não faz nada de brilhante, faz o apenas o que deveria ser feito, ou seja, contribui para dar peso a música.

Na letra, não encontramos nada de mais, fica nesta ideia: "Você está meio cabisbaixo, vamos pegar a estrada e levantar este astral, vamos explodir". E isso pode ser interpretado dependendo do gosto do freguês. O certo é que a música não traz nenhuma questão filosófica profunda para se refletir. "Super Collider" é um rocão para se curtir naquela viagem entre Sul de Minas e São Paulo, no momento que você pega a Fernão Dias e pode acelerar mais um pouco seu carro e abrir os vidros para sentir o vento batendo em seus cabelos sujos. É uma música fácil de ser digerida, poderia estar em uma trilha sonora de um filme da sessão da tarde, ou até mesmo tocar em rádios populares. Qualquer um pode gostar de "Super Collider", você, seu pai, sua mãe e seu poodle. Só quem não gosta são os rabugentos que vão cortar os pulsos porque o Megadeth não falou de Lúcifer desta vez, ou não foi tão "trash" quanto o Metallica. Mas para estes restam a esperança, afinal de contas daqui  a 33 dias, o Megadeth lança o novo disco, quem sabe lá estes chatos terão uma palavrinha do capeta.

Confiram "Super Collider".