segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um lobo reacionário

"Tropicália sobre Lobão" - Por Mariana Salimena 
O polêmico Lobão volta à cena! Nas últimas semanas o roqueiro carioca tem sido assunto em nossos principais veículos de comunicação. Isso devido ao lançamento do seu segundo livro: "Manifesto do Nada na Terra do Nunca", o obra em que critica a política e a cultura nacional.

O engraçado que o Lobão causou polêmica antes mesmo de lançar o livro, isso por conta de uma entrevista ácida que deu para a Folha de São Paulo no último dia 2. Suas declarações sobre a Presidente Dilma, sobre os Racionais e sobre a Tropicália, assuntos estes que são tratados no livro, não foram bem digeridas por alguns. Principalmente pelo líder dos Racionais, Mano Brown. É claro, Lobão afirmou que "Os Racionais são o braço armado do governo, são os anseios dos intelectuais petistas, propaganda de um comportamento seminal do PT".  Tal declaração fez Mano Brown ser irracional e chamar, via twitter, o cara para uma briga.

Sobre a Presidenta Dilma, disse que a tão falada "Comissão da Verdade" deve investigar também o passado   de nossa atual líder de Estado e que não acredita em vítimas da ditadura. Lobão afirma que Dilma tem uma ficha criminal ampla.

Em relação à Tropicália, Lobão se diz desinteressado e que o movimento foi um fruto da Semana de Arte Moderna de 22. Na visão dele, a famosa semana de arte quebrou o academicismo, mas os movimentos que vieram depois (inspirados na própria semana de arte) acabaram criando uma outra espécie de academicismo. Um academicismo liderado por intelectuais de esquerda, que segundo Lobão são os "campeões mundiais de punheta de pau mole". Neste grupo de intelectuais, Lobão inclui nomes respeitados na cultura nacional: Gilberto Gil e Chico Buarque, por exemplo.

Tais críticas são feitas há muito tempo por Lobão. Por isso carrega o rótulo de polêmico. Mas de um tempo para cá, Lobão passou a ser adjetivado com um termo que voltou à moda: reacionário, ou "reaça" para os mais moderninhos. Lembrei que um dos grandes mestres da dramaturgia e literatura brasileira também foi chamado de reacionário. Sim, Nelson Rodrigues até escreveu um livro com o título "O Reacionário".  Em 1977 o "anjo pornográfico" já falava que a esquerda estava virando direita. Outra figura nacional que está carregando a cruz de ser um "reaça" é o filósofo Luiz Felipe Pondé, um duro crítico do comportamento "politicamente correto".

Mas o que o roqueiro Lobão, o dramaturgo Nelson Rodrigues e o filósofo Luiz Felipe Pondé tem em comum para serem chamados de reacionários? A resposta é coragem e caráter. Os três não tem medo de falar o que pensam. Eles denunciam uma cultura em que mentir sobre nós mesmos se tornou chique! Afinal de contas, é lindo dizer que somos simpáticos, que são geniais os nossos intelectuais que não produzem nada interessante há anos, que somos moderninhos por ter uma mulher na presidência, que ser pobre é lindo e que não temos preconceito.  Tudo isso tem uma certa ligação com certos conceitos lançados pela Semana de Arte Moderna de 22. E estes conceitos moldaram o pensamento de nossos intelectuais de esquerda.

E até hoje estamos nessa mediocridade cultural e política. E poucos foram cabra-macho para bater de frente com nossos monstros sagrados de nossa cultura. E por que? Simplesmente porque se você gostar ou fingir gostar de Caetano, Gil,  Chico e Marisa Monte você é tido como "cool" diante da esquerda intelectual que domina este país. Em uma conversa, você pode ganhar a gatinha hippie de boutique dizendo que gosta de Gil e todos da Tropicália. Puxar saco dessas múmias, ou morto vivos de nossa cultura se tornou uma espécie de comportamento padrão para conquistarmos uma aura de inteligentes, uma "intelectualidade USP" como diz Lobão.

Mas alguém parou para analisar friamente e perguntou para si mesmo: "Esses caras são realmente geniais?". Por exemplo, a "Ópera do Malandro do Chico Buarque é genial?". "Caetano é um gênio?". Às vezes acho que se o Chico Buarque fizesse um cocô na calçada todos nós acharíamos que aquelas fezes são geniais. E algum órgão da cultura lutaria para tombar a calçada e nomear o cocô do Chico como patrimônio da nação.

Enfim, Lobão parou para pensar nestas coisas e não só isso, escreveu um manifesto que estou ansioso para ler. Eu sinceramente nunca tinha parado para pensar se o Gil, ou o Chico realmente são gênios. Para mim eram gênios e pronto - até já escrevi uma música inspirada no Chico. De qualquer forma, Lobão me fez parar para pensar sobre a possibilidade deste membro da família Buarque não ser genial. Assim como Nelson me fez refletir sobre nossos sentimentos mais sombrios e Pondé conseguiu me fazer ser contra o feminismo e o politicamente correto.

Graças a esses caras, consegui descer do muro. Ainda gosto do Chico, mas isso não impede de tê-lo como inimigo. Afinal, como diz o Seu Madruga: "As pessoas boas devem amar seus inimigos".

Piadas à parte, caras como o Lobão, Nelson e Pondé me ajudaram a definir quais são justamente meus inimigos.  E concluí que são os "cretinos fundamentais" denunciados pelo Nelson, são os "inteligentinhos" acusados por Pondé e os "intelectuais da punheta de pau mole" criticados por Lobão. Esse tipo de gente parece menininha histérica, que quando criticada diz: "Você é feio, bobo, chato". Na verdade eles substituem o "feio, bobo e chato", por "reacionário, fascista e preconceituoso". São sempre estas acusações, tudo muito previsível. No caso do Lobão, eles acrescentam outros termos pífios: "Drogado, velha rabugenta, viciado".

Mas o que o Lobão é de verdade é um roqueiro autêntico e inteligentíssimo. É o nosso lobo reacionário que fareja hipocrisia e carrega o mais puro espírito contestador do rock and roll. Alíás, ouso dizer que Nelson e Pondé também são roqueiros. Carregam este sentimento, essa vontade de opinar e provocar reflexão. Isso é rock and roll! E Nelson e Pondé são mais roqueiros que  qualquer bandinha metida a inteligente, tipo Los Hermanos e Teatro Mágico. E para isso nem precisaram fazer um acorde de guitarra.

Confiram a entrevista do Lobão no "Agora é Tarde" da Band no dia 07/05/2013.
 




13 comentários:

  1. acrescente aí Los Hermanos e quem fala que gosta de "música de viola" ou "de raiz", ao invés de defini-la como sertanejo.

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  2. Sempre quando tem uma discussão entre "direita" e "esquerda" pode vir que os argumentos do "você é bobo e chato", ou seja, os argumentos reducionistas e retardados são dos direitistas, no caso, Pondés e Gui Monteiros da vida.

    O próprio Pondé critica o feminismo falando que as feministas são feias , e os supostos direitistas argumentam apenas falando COMUNISTA, PETRALHA, etc. É uma incrível falta de intelecto.

    Na minha opinião, Pondé polemiza porque resolveu sair um pouco do meio acadêmico (como ele mesmo assume em seu livro) e ganhar grana com livro. Agindo, assim como o Brown falou do Lobão, como uma puta pra vender livro. Embora Pondé aparente um certo embasamento pra falar as merda que fala, no fim das contas, é tudo marketing. Nem o critico por isso, faz o que quer, só posso rir de quem compra o discurso.

    Claro que eu sei que tá cheio de gente que quer apenas viver de aparência, se mostrando cultizinho por aí, mas não acho que seja geral. Inclusive no ponto de a 'esquerda da punheta de pau mole' falar que é tudo lindo e não existe preconceito. Falar isso é muita ignorância, visto que são tais movimentos e o governo 'petralha' que buscam formas de 'consertar' a questão racial. Sejam esses métodos questionáveis ou não, a questão é que, se existem, é porque é assumido que existe o preconceito. Falar que a esquerda não acredita em preconceito é no mínimo pobreza intelectual.

    A galera que fica achincalhando o tal politicamente correto quer apenas poder continuar batendo em gays, ter empregadas domésticas por preço de banana e não encontrar com negro e pobre em aeroporto - simplesmente pelo fato de ainda acreditarem que tem mais direitos e são melhores que as outras pessoas. De qualquer forma, Pondés, Nelsons e Lobões estão fadados ao fracasso à medida em que mais gente se conscientiza que quanto mais as pessoas se excluírem, pior pra todo mundo.

    Sim, estou do outro lado da trincheira e aqui no quarto ao lado.
    hahahahahahah

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  3. Que exagero esta parte "A galera que fica achincalhando o tal politicamente correto quer apenas poder continuar batendo em gays, ter empregadas domésticas por preço de banana e não encontrar com negro e pobre em aeroporto". Não acredito nisso, não sou reducionista, mas sim, acredito que sou melhores do que os outros e que você.

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    1. Ah, não disse em nenhum momento que eles não acreditam em preconceito. Disse que acham lindo dizer que não temos preconceito. Mas o outro sempre tem preconceito, eles nunca.

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  4. Putz Gui, vai escrever bem assim na cadeia - a proposito, seria bem louco hein rsrs - meu!adorei. apesar de pouquissima coisa q nao concordo mas intendo mto bem sua ira por to passando pelo mesmo por "cultuar" caras como o proprio Lobao, o deputado Jair Bolsonaro e qualquer beudinho de rua!nao sou de direita nem esquerda nem "trazeira" (como dizia Raul Seixas), sou da Verdade e do Amor na base do carinho ou da porrada!haha abraços!

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  5. Não sei do Lobão, mas o Pondé é inteligente sim, mistura coisas geniais numa sopa de não-ideologia individualista babaquérrima.

    Acho que essa palávra "reacionário" tá sendo usada demais ultimamente, tá servindo pra qualquer coisa.

    Tá dificil achar alguém ideologicamente coerente, por isso não chamaria o livro do Lobão de manifesto... Mas também tá bastante dificil dagente se filiar a uma ideologia qualquer de modo coerente.

    Genial, de esquerda e coerente que eu conheço é o Paulo Freire e só...

    Acho legal esses caras falando como se estivessem sendo pressionados, como se os "inteligentinhos da USP" ou a esquerda marxista, estivessem dominando o mundo e que eles, coitados, estão defendendo o país e sua cultura do grande golpe Vermelho, disfarçado de "politicamente correto"...

    Politicamente correto pode servir tanto a equerda quanto a direita mais conservadora de todas... é só um modo de reprimir coisas, não uma ideologia.

    Que fiquem todos tranquilos, não há perspectiva alguma de que o pensamento do Chico - ou do Caetano de tropicália, ou mesmo do Paulo Freire, do Plínio de Arruda - dominem o mundo... Tá tudo vendido, cara, temos que pagar o aluguel...

    E outra, defender o que é de "raiz" ou o que é "nacional" é só outra face da direita, que vê na viola uma pureza que deve ser conservada. Mas tem gente acha que isso tem a ver com a esquerda, quando a esquerda parece querer só o pluralismo, a equidade...

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    1. Boa, Eduardo. Há tempos a gente não se esbarra. Ótimo ponto de vista. É um prazer tê-lo aqui. Fico feliz pelo post ter levantando questões. Estou sim do lado do Pondé, Nelson e Lobão, principalmente pela coragem que eles tem de se expressar.

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  6. ah!esqueci...fuça um pouco no meu face e ve o q acha!acho q estamos bem juntos em opiniao veio!só causando polemica rsrs

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    1. Eu posso ter falado um monte de merda, foda-se. Falei o que sei ou que não sei. Expressei minha ignorância ou minha inteligência. O bom é que a galera está comentando, discutindo.

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  7. Uma das minhas maiores desilusões foi entrar na USP e ver uma fábrica (pelo menos na FFLCH) de "cools" barbados, que pregavam uma visão, ou uma orientação política engessada e ultrapassada. "Esquerdistas" ultra conservadores embebidos por um discurso infantil e imaturo. Fiquei fodido uma vez por que os filhas da puta simplesmente colocaram um monte de cadeiras na frente da porta da faculdade, impedindo que mais de 90% dos alunos não tivessem aulas. Como que um grupo comunista sonhador da paz fazia isso? Havia uma corja totalitarista, os mesmos babacas que invadiram a reitoria e ficaram jogando bola e fumando um baseado, que matavam as aulas pra politicar, que ficaram putos quando os PMS entraram na USP, por que dai não poderiam mais fumar de boa pelas calçadas.Concordo com muitas coisas, também não gostavad o reitor da época, mas tudo era muito espelhado. As atitudes dos estudantes eram as mesmas daqueles que eles condenavam. O que eu vi foi um pessoal parado no tempo, cegos a tecnologia, as novas correntes filosóficas, ao bom senso... Vi um padrão intelectocool que eu não poderia fazer parte por gostar de RAP e filmes da MARVEL, ou por rir de Hermes e Renato ou por comentar um post do Blog Supino... Eu era um OGRO, machista,roqueiro e nerd.

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    1. Uau! Porra, você parece ter vivido mais esta coisa de "direita e e esquerda" do que a gente aqui na zona da Mata Mineira.

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  8. Não conheço muito do Lobão, mas estou muito curioso pra ler o livro, por que apesar de gostar do Mano Brow e os Racionais, achei as críticas contra ele muito boas e consistentes.

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