quarta-feira, 24 de abril de 2013

Deus pode estar morto, mas o heavy metal é imortal



 "Deus está morto?", a questão levantada por Nieztsche no século XIX é a inspiração do novo single do Black Sabbath, lançado na semana passada. A banda inglesa acertou na mosca ao escolher o polêmico tema filosófico que muito tem a ver com o universo do heavy metal. Aliás, a escolha foi genial, perfeita. Nieztsche e Heavy metal são atemporais, nunca saem de moda. Assim como as ideias do pensador alemão causam calafrios e inquietam nossas almas, o heavy metal ainda incomoda muita gente.

A filosofia de Nieztsche foi se moldando a partir de suas críticas a ideiais religiosas e questões das ciências sociais como, por exemplo, o socialismo e o igualitarismo. Já o Heavy Metal nasceu com o próprio Black Sabath na ressaca da chatinha ideologia hippie. E o que sobrou hoje em dia do socialismo, do igualitarismo e do "paz e amor hippie"? Praticamente nada, não fazem mais sentido: o socialismo fracassou há muito tempo, mas ainda tem gente que não se desapega em nossos diretórios acadêmicos; o igualitarismo é uma balela que virou marketing social, é uma piada ouvir que todos somos iguais; e o que sobrou do universo hippie foram algumas musiquinhas legais, belas roupas floridas nas boutiques e alguns barbudos vendendo missangas e gnomos de durepox em nossas praças.

 O pensamento de Nieztsche e as pancadas do Black Sabbath venceram a força do tempo e fazem sentido até hoje, pois encararam com coragem a possibilidade de Deus não ser tão bonzinho e que é impossível nos considerarmos todos iguais e amarmos uns aos outros. Para você que nasceu lindo, forte, tem uma ótima família e uma rica vida afetiva é fácil dizer que Deus está vivo e é bom, além de todas as pessoas serem legais e capazes de fazer milagres. Mas para você que nasceu feio, gordo, ou magro espinhudo, não tem um bom emprego e nenhum sucesso afetivo, cogitar que Deus não é tão legal assim, ou até que está morto, é algo natural.

A prova disso está na mídia, onde vemos estudos que afirmam que os amantes do heavy metal tem a tendência a sofrer “níveis mais significativos de ansiedade e depressão”. E o heavy metal do Black Sabbath ganhou força nos anos 70 sendo a voz justamente deste público angustiado por não se sentirem priveligiados por Deus ou não tê-lo vivo ao seu lado. Por isso a afinidade com a figura mitológica do demônio é tão grande para os fãs.

Esta angústia provocada pelo Deus morto, ou pelo Deus que supostamente é só bom para poucos, é explorada pelo Black Sabbath nesta sua volta. Não havia maneira melhor de voltar do que relembrando estas questões. Afinal banda surgiu assim, falando sobre a dureza da vida ou do descaso de Deus. E isso é expressado magistralmente em "God Is Dead?".

No início da música a voz de um Ozzy "carcumido" pelo tempo e a levada lenta e muito pesada são as armas usadas pelo Black Sabbath para simbolizar a angústia da dúvida se Deus está morto ou não. Exatamente aos seis minutos e 20 segundos, Tony Iomi começa a usar a velocidade para sugerir um aumento de angústia e a revolta provocada por ela, a música fica mais violenta.

Em termos de timbres, estamos diante de um Sabbath que não tenta inovar, repetindo o bom gosto dos seus primeiros anos. Que som lindo do baixo do Geezer! Simplesmente um dos melhores baixistas da história do rock and roll, é ele quem traz o peso em "God Is Dead?" com seus arranjos influenciados por jazz e blues. Na batera, Brad Wilk deu conta do recado, substituiu Bill Ward com uma pegada matadora, bem estilo Black Sabbath, descendo o braço em viradas precisas. Imagino o orgulho que ele deve estar sentindo. Imagine o orgulho de ser convidado para gravar com o Sabbath? Juntamente com Geezer, Wilk preparou a cozinha do Sabbath para o show dos riffs de Iommi. E o grande Tony está com tudo, parece que conseguiu transferir para música a mesma força que teve para enfrentar o câncer, seus riffs estão animais e fazem qualquer Eddie Van Hallen por aí  morrer de inveja.

 Enfim, se Deus está morto ou não, não sei responder. Só sei que se ele estiver morto, ele está perdendo a grandiosa volta do Black Sabbath, imortalizando o heavy metal através de um tema de Nieztsche. Grande tema, grandes riffs e grande música.



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